XVIº Dom tempo comun – A parte melhor
Neste domingo Jesus visita a casa dos amigos Lázaro, Marta e Maria. Neste episodio Lázaro não é nominado. Jesus não entra numa casa qualquer, mas visita uma casa de amigos. Marta e Maria recebem Jesus como amigo, o mestre e amigo. Como seria bom receber Jesus na nossa casa e no nosso coração, receber o “amigo” verdadeiro, estar com ele sem exigir nada, a não ser, a amizade.
Voltamos ao evangelho de hoje. Maria conversa com Jesus e Marta está ocupada, quem sabe arrumando a casa ou preparando o almoço. È ela que provoca a intervenção de Jesus se queixando de Maria, culpada de não ajudá-la nos afazeres de casa.
A resposta de Jesus é imediata. Ela não repreende Marta porque está trabalhando, mas porque está “pré-ocupada” e “agitada com muitas coisas”. Nós deveríamos aprender a não viver pré-ocupados, mas apenas nos ocupar das tarefas da vida no momento certo. Nos preocupando demais perdemos a calma, vivemos ansiosos, nunca temos tempo para nada porque estamos sempre pensando na próxima coisa a ser feita. Deveríamos curtir muito mais o momento presente.
Em segundo lugar vem a agitação. Difícil hoje achar alguém que não tenha uma vida agitada. Todos se queixam de muita correria e do tempo que não basta mais. Mas não é assim, o problema é que nesta agitação não administramos bem o nosso tempo e usamos muito mal as horas vagas. O que podemos entender por agitação?
Penso que existem muitas respostas. Vou propor a minha visão, no sentido de como entendo a palavra de Jesus.
A vida é agitada quando se torna uma sucessão de tarefas, muitas coisas a ser feitas, mas parece que falta uma “raiz” mais profunda. A vida parece não ter um alicerce sólido baseado na nossa fé. Não temos uma consciência clara de quem somos e da razão que nos leva a agir. Poderíamos dizer que temos muita “quantidade” mas pouca qualidade. Isto é, preocupamos com a quantidade, fazer muitas coisas, mas não com a qualidade: como fazer as coisas. Jesus fala que Maria escolheu a parte melhor. Esta parte melhor tem muito a ver com a qualidade. Não é importante fazer muitas coisas ou dizer muitas palavras, mas é importante como as coisas são feitas e o que falamos. A “parte melhor” é portanto a capacidade de viver com a luz de Deus; a capacidade de ouvir a voz do Senhor, a sua palavra, o seu ensinamento. Mesmo na oração, as vezes somos preocupados com a quantidade de orações e não com a qualidade da nossa conversa com Deus. Alias a oração por muitos não é uma conversa com Deus, mas um monologo onde apenas nós falamos e nunca damos o espaço para Deus nos falar. Como seria bom aprender a ler um trecho do evangelho e tentar entender o que Jesus quis nos dizer. Daí a importância nesta vida corrida da meditação, do auto conhecimento a luz da Palavra, do tempo para refletir e escolher como viver ou como falar. Assim a vida perde a agitação de atos e palavras sem muito sentido e se torna algo mais consciente, mais autentico. Passamos então a valorizar o “como” e não o quanto. Passamos a viver com qualidade, que não é fruto do bem estar financeiro e dos confortos e luxos que nos podemos permitir, mas é fruto da oração, da nossa conversa com Deus que acalma a tempestade da vida e nos ajuda a viver serenos e conscientes, mesmo nas situações mais difíceis. E esta é a “parte melhor” que nunca será tirada de nós.