Vocação Fruto do Amor a vida
O mês de agosto é o mês da vocação. Existem muitas vocações em relação à escolha pessoal, profissional e a vida religiosa. Vocação é ser pai e mãe, ser casados, consagrar a própria vida, como uma freira e os irmãos consagrados.
A vocação se expressa também na forma de viver estas vocações fundamentais: existem casais que vivem como missionários; outros que dirigem uma casa-família para crianças abandonadas; outros ainda se comprometem nas pastorais de uma paróquia. O fato de ser padre pode ser vivido de muitas maneiras: há muitos carismas que um padre pode viver.
Mas todas estas vocações podem brotar quando criamos famílias e comunidades onde a vida é apresentada como uma resposta a Deus. Isso acontece quando a própria vida é considerada um chamado, um dom, um presente que recebemos todo dia e a cada momento.
Na cultura atual não é fácil pensar assim. Vivemos num contexto extremamente individualista e narcisista. O sentido privado da vida domina o sentido comunitário. As pessoas não se sentem parte de um todo, de um bem comum, mas se iludem que o bem é apenas pessoal. A vida é concebida como algo próprio e não é vista como algo que pode ser bom para o bem de todos. A pessoa sente o direito de fazer o que bem quer e interpreta a liberdade como ausência total de vínculos de qualquer natureza. Muitas mulheres levantam o grito “o corpo é meu” e decidem-se a favor do aborto sem nem querer avaliar que dentro daquele corpo existe uma vida, que tem o mesmo direito de viver. Tudo isto está no ar que respiramos, na cultura atual.
Mas será que uma pessoa pode fazer tudo que ela quer, do jeito que ela bem quer? Será que o justo respeito à individualidade de cada pessoa significa isto?
Claro que esta é mais uma ilusão e uma profunda mentira que existe dentro do ser humano. Uma pessoa que se decide unir em casamento escolhe viver para o outro. O horizonte da sua felicidade não é mais si mesmo, mas o seu parceiro. Casa-se para um bem comum; o bem dos dois não é mais o bem individual. Depois chegam os filhos e o amor dos pais os leva a se doar profundamente para eles. Suas decisões não são mais “livres”, mas condicionadas pelo amor aos filhos que os levam a repartir com eles toda sua vida.
O ponto é este: o amor é uma decisão livre, de uma liberdade verdadeira, que porém nos leva a agir de maneira coerente a este amor. Uma mãe e um pai nunca seriam felizes se abandonassem seus filhos. Quem ama não faz tudo que ele quer, mas faz o que precisa, o que o amor lhe sugere, com todas suas características de generosidade, carinho, ternura, sensibilidade e cuidado que são próprias.
Acredito que só o amor maduro é responsável e nos mostra a verdadeira liberdade. Deus é amor, e nós nascemos pelo amor de Deus que nos cria. E como existe o amor humano, existe o amor a Deus e por este amor faço da minha vida uma resposta a Deus.
Decidi ser padre por amor a Deus e à humanidade. Foi uma decisão livre. Nada me obriga a ser padre quanto os meus próprios sentimentos. A decisão está dentro de mim. Sinto-me totalmente livre, mas não consigo viver uma vida sem o compromisso de fraternidade, de justiça, de paz.
Madre Tereza dizia que o maior crime contra a vida é jogá-la fora. É verdade. Qualquer vocação nasce do fato que sentimos dentro de nós, que não podemos deixar escondido o tesouro que somos e tudo que recebemos. Vocação é desejo de partilhar nossa vida. Assim como Deus, que não quis ficar sozinho na sua perfeição. Preferiu nos criar, mesmo imperfeitos, mas capazes de amá-lo e aceitar o dom da vida.
Por isso acredito que descobre sua vocação aquele que ama profundamente sua própria vida e não aquele que se consuma num individualismo sem sentido, sem alegria, sem Deus.