VIº Dom da Páscoa – Religião do Amor
Na Palavra de Deus que neste fim de semana ouvimos, recebemos o mandamento novo em que se baseia todo o ensinamento de Jesus: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. A coincidência de calendário quis que neste dia caísse o Dia das mães. O amor materno é algo que nos acompanha a vida inteira. Desde a vida intrauterina sentimos o amor da nossa mãe. Sentimos aconchego, segurança, proteção. O amor de mãe nos mostra concretamente que amar não é um sentimento passageiro, mas uma atitude concreta que acompanha uma pessoa que vive fora de si mesma, sempre preocupada com o bem-estar do outro, o filho. O amor é um interesse real da vida do outro que se traduz em cuidado, afeto, responsabilidade, sacrifício; enfim amar é pura doação de si mesmo.
O nosso Deus é assim: não fica preocupado em receber louvores e glórias, mas nos diz: “Amai-vos uns aos outros”. Jesus, doando-se completamente e até o fim sua vida para nós, nos mostrou a grandeza do amor. Ele acredita que também nós possamos viver da mesma maneira, doando nossas vidas uns pelos outros.
Mas João, na sua carta, nos assusta com uma afirmação categórica: “Quem não ama , não conhece a Deus”! Porque Deus é amor.
Aqui realmente se trata de pensar bem no nosso jeito de sermos cristãos e de vivermos a fé. Consideramos atos religiosos aqueles que nos ligam diretamente a Deus: oração, adoração, louvor. Mas Jesus quis nos mostrar que o ato de amor puro é o ato religioso por excelência. Quando amamos alguém, sem interesse e com verdadeira dedicação, amamos o próprio Cristo. Ele mesmo nos disse “Tive fome e me destes de comer”. (Mt 25,31-46)
Percebemos assim que os nossos atos religiosos, sem o amor, perdem seu sentido. Desde o profeta Isaías, Deus tenta nos ensinar isso: “Ainda que multipliqueis as orações, não vou ouvi-las, vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos a maldade dos vossos atos. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo; socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão; defendei a causa da viúva…” (Is 1,15-17)
O próprio São Paulo, no seu maravilhoso hino a caridade, fui muito claro: “Ainda que distribua todos os meus bens, ainda que entregue meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me serve” (1Cor 13,3).
Perante tudo isso me pergunto: podemos continuar a fazer da religião algo vazio, sem o seu conteúdo mais importante? Por que nas nossas comunidades continuamos a tratar o mandamento do amor, como se fosse “algo a mais”, como se fosse um detalhe? Não percebemos que se trata do essencial?
Então precisa aprender a amar e permanecer no amor. Podemos errar, podemos sentir na pele que é difícil, mas precisamos nos colocar num processo de conversão e aprender a avaliar a nossa fé a partir do Mandamento Novo.
Amar significa aprender a olhar para o outro e não apenas para nós. Em certo momento alguém precisa falar e amar significará ouvir com atenção e paciência; se alguém precisa de perdão , amar será perdoar; se alguém precisa de uma ajuda, de uma conta para pagar, de um remédio caro, e eu tenho condição de fazer isso, não posso mandar embora a pessoa sem ajudá-la; neste caso mandei embora o próprio Cristo. Não falo de pessoas que “falsamente” se passam de pobres para nos enganar. Falo de necessidades reais, de pessoas que conhecemos, mas não ajudamos. Se fechei a porta ao Cristo presente no irmão, como posso depois me apresentar na fila da comunhão? Só se tiver me arrependido e decidi de voltar atrás apara ajudar aquele irmão. Anos atrás escrevi uma música que está no CD Canções, cujo titulo é Coerência; o refrão falava assim :
“NÃO SABE REZAR, QUEM NÃO SABE AMAR
A FÉ SEM OBRAS É HIPOCRISIA
PRECISA MUDAR, PRECISA AMAR
SE CONVERTER, AGIR COM FÉ”
Vamos nos ajudar a viver o Evangelho do amor!
Padre Graciano/13 de maio de 2012