VIIº Domingo comum – Gerados no amor para ser amor.
Continua a grande aula de Jesus sobre as atitudes e comportamentos concretos que eram permitidos na Lei do AT e que não cabem mais na nova Lei anunciada por ele. O grande esforço do mestre de realizar a transformação do coração humano. Ensinamento que é muito claro e difícil ao mesmo tempo. A regra que ele nos mostra é assustadora para nós que, querendo ou não, aprendemos a lidar coma nossa imperfeição, nos acostumamos a comportamentos inadequados e as vezes imorais, brincamos tanto com a hipocrisia tentando nos convencer que os nossos pecados não são mais pecados, mas um jeito inteligente de nos virar. Mesmo assim Jesus nos propõe o seu parâmetro : Sede perfeitos como o Pai é perfeito!!
Sinceramente me surpreende que após um discurso desse os discípulos continuaram a seguir Jesus. A sua proposta é tão difícil que maravilha alguém tem coragem de encarar. Quero ser sincero com vocês: da uma vontade de falar “Senhor deste jeito não da, é difícil demais!!” Por isso creio ainda mais nos Evangelhos como textos historicamente autênticos, pois se alguém tivesse inventado “historinhas sobre Jesus” com o motivo de proselitismo, com certeza este texto não estaria no evangelho.
Mas existe uma solução sim. Só nos acalmar um pouco e refletir. Vamos com ordem.
Primeiro. Jesus aqui nos abre ao infinito. Não se trata de uma mudança repentina, imediata, mas de um novo horizonte que nos mostra onde o amor verdadeiro pode nos levar.
Segundo é um texto paradoxal, isto é explora uma linguagem exagerada, com o fim de remarcar uma idéia com força. O próprio Jesus, quando leva um tapa de Pilatos, não oferece a outra face, mas pergunta por que me bates se não te fiz nada de mal? A própria igreja na sua tradição defende o direito da legitima e proporcional defesa:
Canôn 2264 do Direito Canônico: O amor a si mesmo permanece um princípio fundamental da moralidade. Portanto, é legítimo fazer respeitar seu próprio direito à vida. Quem defende sua vida não é culpável de homicídio, mesmo se for obrigado a matar o agressor:
Se alguém, para se defender, usar de violência mais do que o necessário, seu ato será ilícito. Mas, se a violência for repelida com medida, será lícito… E não é necessário para a salvação omitir este ato de comedida proteção para evitar matar o outro, porque, antes da de outrem, se está obrigado a cuidar da própria vida.
Terceiro: Jesus praticamente nos diz que o amor não pode conviver com o ódio. Que o amor mantém sempre a mesma convicção mesmo nas situações mais complicadas. AMA-SE o próximo por convicção própria, independentemente se ele merece ou não. O amor não é um premio que damos àqueles que nos agradam, mas é um jeito de ser. Sempre me impressionou nas biografias do Al Capone, o maior gangster da America, o fato que era um avô exemplar, muito carinhoso com suas quatro netinhas e enquanto as carregava no colo mandava assassinar seus inimigos!! Até que nós não acreditamos que o ódio nos destrói, não estamos entendo nada da vida, e muito menos da mensagem de Cristo. Podemos nos proteger do “inimigo”, mas não existe o direito de odiar, o direito da vingança. Ódio e vingança sempre deixarão feridas profundas no nosso ser. Não depende mais nem de Deus, assim fomos gerados por ele, e se o amor é o ar que nos faz respirar, o ódio é a falta deste ar, morremos espiritualmente, morremos por dentro.
Vamos nos privar de tudo para ajudar o próximo? Não precisa não. Mas a nossa caridade e a nossa solidariedade devem ser proporcionais as nossas possibilidades e a necessidade real do outro.
Por isso Jesus não poe limite ao nosso crescimento no amor: sede perfeitos como o Pai.