Um Deus que salva, não condena! Homilia do 4º domingo da quaresma
A quaresma continua e desta vez no centro da nossa reflexão está o plano de Deus: “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna.”. Jesus é colocado no centro da nossa fé e da nossa opção de vida, quem nele crer terá a vida eterna, não no sentido temporal, mas a mesma vida de Deus. Jesus para João não é o crucificado, mas o “levantado” na nossa frente para que todos possamos olhar fixo para ele. Deus enviou seu filho ao mundo não para condenar, mas para salvar.
Quero hoje refletir um pouco sobre este imenso amor de Deus e do seu Filho. Há muitas pessoas que, com desejo de voltar a uma igreja de outros tempos, acusam Papa Francisco de estar banalizando a fé com seu discurso sobre a misericórdia, como agora todos são amados e perdoados, não tem mais condenação e as pessoas vivem pecando, pois a misericórdia de Deus vai resolver tudo. Segundo estas pessoas o discurso exagerado sobre a misericórdia gera um relativismo onde tudo é lícito. Para eles o papel da Igreja é condenar, punir, reprimir. Ainda presos no Antigo testamento, falam de um Deus que fica bravo quando nós pecamos e por isso nos castiga.
Mas o evangelho de hoje está falando isso? É este o plano de Deus? Precisamos ser mais profundos na reflexão.
O amor de Deus concebeu o ser humano como ser livre. Ele nos ama e quer que nós o amemos, mas esta deve ser uma decisão nossa. No medo, na chantagem, na ameaça não existe o amor. O sentido da nossa vida é descobrir a beleza do amor de Deus, se deixar abraçar por este amor e viver o mesmo amor com os nossos irmãos. O nosso medo não deve ser de Deus, mas de viver uma vida sem o amor de Deus. O maior medo de uma pessoa apaixonada é perder o seu amado. Como entendemos que não há vida sem este amor, nos preocupemos e nos empenhemos em viver neste amor. Fugimos do pecado, não por medo do castigo, mas porque o pecado nos afasta de Deus, não tem sentido e pode destruir nossa vida, nossa paz.
Jesus diz: “quem não crer nEle será condenado.” Isso é muito claro, claríssimo! Quem não tem a vida conduzida pelo amor de Deus já está condenado, está perdido, está sem rumo. Quem nele crê não morre, não porque fica imortal, não porque não passa pela morte, mas não morre porque vive na mesma vida de Deus.
Como Deus é Senhor da vida na terra e da vida depois da morte, não é a morte física que preocupa Deus, mas a morte interior. Ele nos deu Jesus Cristo para que não morramos por dentro. Esta é a morte que deixa Deus sem ação: a opção do homem de viver sem Ele, de viver longe do seu amor. Ele nos deixando livre corre o risco de não ser amado por nós e aceita este risco porque quer um amor verdadeiro. Esta é a leitura da parábola do Pai misericordioso: o Pai sofreu, mas aceitou a decisão do filho de se afastar dele e, porém, nunca perdeu a esperança dele voltar. E o filho se lembra do amor do Pai quando estava dividindo comida com os porcos, isto é, quando o pecado acabou com a vida dele. A grande tragédia humana é que muitos, mesmo dividindo a comida com os porcos, não se lembram de ter um Pai apaixonado por eles, e por isso pregamos a misericórdia.
A vontade de Deus é salvar. Perder um filho para Ele é uma derrota. A perfeição divina se deixa ferir pelos filhos perdidos. A condenação não é uma escolha divina, mas uma decisão humana.
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas-MG
Diocese de Guaxupé