Rito do lava-pés- Homilia da quinta-feira Santa- Pe Graciano
Com esta celebração começamos o grande tríduo Pascal: é uma celebração que começa hoje, com o Nome do Pai e termina apenas com a Benção no fim da Vigília Pascal de sábado Santo. Hoje terminaremos em silêncio, sem a benção final, iremos até o altar da reposição. Amanhã a liturgia da sexta-feira santa, as 15 horas, começa em silêncio, não temos nem acolhida nem o Nome do Pai, pois estará continuando a liturgia de hoje. Amanhã também seremos despedidos em silêncio, e a Vigília Pascal começa com a liturgia do fogo, continuando o que começamos hoje. Então este tríduo pascal nos coloca na situação de reviver plenamente os três dias da Última Ceia, da traição, da prisão, da coroa de espinhos, da farsa de Pilatos, da cruz carregada, das caídas, do Cireneu, do Calvário, da crucificação, da agonia na cruz, da morte na cruz e enfim do sepulcro vazio. Sim, a liturgia nos faz viver tudo este mistério.
Hoje neste clima da última ceia, clima de despedida, da traição de Judas, um momento que Jesus preparou com cuidado e carinho para transmitir o sentido da sua vida. Escolheu se agachar aos pés dos apóstolos e lavar seus pés! O evangelho destaca “e os amou até o fim”. No gesto do lava-pés, Jesus monstra a dinâmica do amor, se rebaixa na frente do irmão e se coloca como servo; mas não servo do poder, nem do dinheiro, mas servo por amor, porque na sua doação Jesus encontra o sentido da sua vida, do seu ser. Este exemplo que nós atendemos na liturgia fazendo o gesto, não apenas o padre, mas muitos da comunidade, representando a todos. No momento mais solene da sua despedida, Jesus nos convida a encontrar o sentido da vida na nossa doação. Viver e servir, amor e doação são o dinamismo da vida, das conquistas humanas, da paz fora e dentro de nós.
Se muitas coisas não são bonitas neste mundo, se muitas pessoas andam tristes e desanimadas, se muitos relacionamentos andam bem complicados, na família e na sociedade, existe apenas uma razão: o ser humano está perdido: mas não digo que está perdido apenas aquele menino que está jogando sua vida fora nas drogas, mas falo também de muitos poderosos no mundo, que se achando certos e justos, estão pautando a vida das pessoas no egoísmo, na violência, no ódio. Poderosos do mundo do Mercado, poderosos do meio Político, do mundo das vaidades, no mundo inteiro.
Nós não podemos cair nesta ilusão. O sentido da nossa vida está no sentido de Jesus: doação generosa, amor concreto, amor que salva, amor que liberta. Não podemos ser pregadores de escravidão. Precisamos pregar a libertação que Jesus quer operar em todos.
Este amor que se rebaixa até os pés, isto é que compreende o outro, que sabe perdoar, que sabe se aproximar. Jesus se aproxima tanto de nós que se fez pão, pão repartido. Se fez vinho, sangue derramado. Se tiramos o amor o que resta a Eucaristia? Tem Eucaristia sem amor? Certamente não tem! Poucos de nós farão o gesto do lava-pés. Todos porém deveremos fazer este gesto espiritualmente, abrindo mão do nosso orgulho, da nossa arrogância e vaidade, para nos rebaixar na frente do nosso próximo. Para acolher e servir. O gesto físico é até fácil, mas o gesto espiritual, onde dobramos não nossas pernas, mas o nosso coração, este sim é difícil, mas é a conquista do amor. O amor e a doação só acontecem se somos capazes de dobrar nosso orgulho, se somos capazes de nos aproximar, nos tornar próximos do outro. Quem se aproxima sabe do que o outro precisa, o que precisa ser feito para amar realmente. Quem não acredita no exemplo de Cristo se torna distante, vira a cabeça do outro lado, não quer saber, vira as costas, se torna indiferente.
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas- MG
Diocese de Guaxupé