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Destaques › 18/07/2012

Reflexão – Almas secas

 

O cristianismo, nos primeiros séculos da era cristã, pegou fama de dessacralizador mitos antigos. Até alguns autores pagãos os chamavam de ateus. Na verdade, os cristãos afirmavam que, dentro da realidade deste mundo, além da presença de Deus, só existe de sagrado o ser humano. Isso porque ele foi formado à imagem e semelhança de Deus. Portanto – diziam eles – não existe água santa, lugares supersticiosos, nem montanha sagrada. Foi uma desmitificação da natureza, muito bem-vinda. Hoje, no entanto, se faz um arremedo, querendo alijar do horizonte mundano, qualquer vestígio do sagrado.

Chega-se a ensinar que é impossível haver qualquer intervenção divina, neste mundo (milagres, graça para superar o mal). É o positivismo mais grosseiro, que não quer aceitar aquilo que não pode ser constatado pelos nossos sentidos. Isso é a morte até da metafísica, grande descoberta dos gregos antigos. Agora não se trata mais de dessacralização, mas de laicização total. É apequenar o ser humano, tirando-lhe qualquer revelação, e qualquer destino eterno. Nesta mentalidade, os homens deveriam olhar o chão, como os animais.

Parece que baixa sobre a humanidade, uma era glacial. Nada mais de oração. (Não preciso recorrer à divindade para resolver os meus problemas. Eu dou conta sozinho). Preocupações? Só as intramundanas. Tais pensadores são reducionistas. São árvores gigantescas em potência, que se contentam em ser arbustos. São mentes de corte agnóstico, e de corações ressequidos. Desejo-lhes a graça de sair da tibieza, para fugir da previsão do salmista (Sl 119, 155): “Para os ímpios não há salvação” (por não a desejarem). Nada para admirar se o número de desorientados morais cresce sempre mais, e a corrupção aumenta em proporção geométrica. Até causa um refrigério ético quando um pobre casal, moradores de rua, ao encontrar R$ 20.000,00 reais, entrega tudo à polícia, para os valores chegarem ao seu dono legítimo. Os corruptos deveriam ser obrigados a narrar esta história, às novas gerações, em sala de aula.

Por Dom Aloísio Roque Oppermann – Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)

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