Quarenta dias de renovação
Algo que tira muito brilho da vida humana é a repetição dos mesmos atos. Ninguém muda nada repetindo os mesmos comportamentos, o resultado será sempre o mesmo. Muitos de nós somos insatisfeitos com nós mesmos e com muitas coisas da vida, mas não tomamos providências para mudar. Sem o desejo de melhorar, tudo fica chato e atrasado. O que seria da humanidade se a ciência não tivesse continuamente buscado novos horizontes, novas descobertas, novos resultados? Hoje a medicina cura doenças que antes levavam à morte, consegue tratamento para problemas de saúde que eram considerados sem solução.
A vida da pessoa não é diferente: precisamos buscar sempre novos horizontes, novas descobertas, um coração e uma mente cada vez mais abertos. O homem é um ser em construção e faz parte do nosso ser buscar o crescimento. Quem fica parado na verdade volta atrás, porque o tempo não para.
A conversão cristã é a busca deste crescimento, baseada num modelo, numa imagem que é Jesus Cristo. Sem Jesus Cristo não existe uma vida cristã. Sem a busca de se semelhar a Cristo não existe conversão. O nosso coração se abre aos valores da paz, do amor fraterno, da solidariedade, da misericórdia, na medida em que seguimos o caminho de Cristo e tentamos nos semelhar a ele.
Na ciência, as descobertas não acontecem repetindo sempre os mesmos procedimentos, mas graças à pesquisa e novos procedimentos. Na vida cristã a conversão, isto é, a nossa transformação, não acontece repetindo sempre os mesmos comportamentos, mas buscando e praticando um novo modo de ser. São Paulo compara os cristãos aos atletas que procuram conseguir a vitória, treinando sempre mais.
A quaresma é um tempo especial: 40 dias para nos conhecermos melhor, avaliarmos a nossa fé e verificarmos as nossas reais intenções em relação a Cristo, se queremos seguir o nosso Mestre, buscando uma fé viva de discípulos (= aquele que aprende), ou estamos parados na certeza de que nada temos a aprender e melhorar. Os sinais característicos da quaresma como o jejum, a oração, a esmola, são uma expressão da tradição de quem busca a conversão. O jejum não é apenas uma prática de restrição de alimentos, mas uma maneira de nos conhecer melhor; saber se temos ainda a força, a vontade de realizar nossas escolhas, sem sermos dominados. A esmola, ou melhor, a partilha, nos ensina a ter um coração solidário e vencer uma concepção individualista da vida. A oração nos lembra que somos seres transcendentes, que o nosso horizonte é aberto ao Deus da vida e a nossa amizade com Ele. Estas formas tradicionais e outras, que podemos descobrir, são maneiras de viver estes 40 dias em maneira especial e conseguir nos transformar.