Qual rumo estamos dando a nossa vida? Homilia do 1º domingo da Quaresma- Pe Graciano
Precisamos nos perguntar por onde andamos; ou melhor, o que ou quem conduz a nossa vida? Image que a vida seja uma viagem de carro e estamos sentados no banco de trás, mas quem está ao volante?
Parece que, as vezes, ninguém está dirigindo e isso assusta, pois não sabemos para onde está indo a nossa vida. Para onde estamos sendo levados? A quaresma é a grande oportunidade de descobrir tudo isso e refletir sobre o rumo que pegou a nossa vida. Em nossos dias muitas as pessoas caem no vitimismo: se nossa vida não vai bem a culpa é sempre de outros: da situação do país, da crise…! Precisamos assumir e conduzir nossa vida no rumo certo com o nosso esforço, fé, oração e o discernimento.
A Quaresma inicia sempre com o evangelho das Tentações de Jesus. Segundo os estudiosos dos evangelhos, este trecho é como um resumo das escolhas que Jesus precisou fazer. O diabo se apresenta como um conselheiro experto, quase um amigo de Jesus que lhe oferece “rumos”, isto é, modelos e maneiras de interpretar a vida, a sua missão e a relação com Deus. Assim aprendemos que “as tentações” não são apenas atos errados e contrários a lei de Deus, mas são coisas que nos enganam tão profundamente que nos levam a uma vida e uma fé errada e sem sentido.
Parece que as tentações de Jesus são como “atalhos”, no sentido de querer resolver tudo de forma milagrosa, sem passar pelo caminho da vida, pela conquista. É o caso da primeira tentação onde Jesus é tentado de usar o poder de Filho de Deus para transformar pedras em pão. A questão do pão, isto é, de todas as necessidades fundamentais do povo, não pode ser resolvida sem uma caminhada de justiça e partilha, para que ninguém fique sem o necessário. Jesus na sua missão não tinha que resolver tudo sozinho com poderes extraordinários, mas conduzir o povo no caminho de Deus: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra…”, aquela Palavra que muda o coração das pessoas, que transforma as comunidades. Se trata de um processo de vida, não uma solução imediata e mágica.
A segunda tentação é parecida: “Deus te socorre em tudo; Ele te salva com seus anjos. Pode arriscar quanto quiser.” Neste caso a resposta mostra que não podemos tentar a Deus, ou mais claramente, não somos nós que decidimos o que deve ou não ser feito por Deus. Para Jesus, podia ser a tentação de buscar uma “glória” pessoal se colocando acima do Pai. Como acontece muito hoje nesta busca exagerada de querer aparecer, na busca pelos aplausos dos outros. É importante nos perguntarmos porquê agimos, rezamos, ajudamos o próximo, vivemos em comunidade… Não pode ser para que os outros vejam! Deus nos conhece e é isso que importa! A nossa vida e a nossa fé precisam ser autênticas. Não é importante aparecer, mas ser de verdade como Deus nos quer.
Enfim, a terceira tentação entra no coração da fé: adorar só a Deus e mais nada. Nossa vida tem que ser de Deus e assim de fato queremos, mas precisamos vigiar com atenção e discernimento para que os poderes desta terra, como poder, dinheiro e sucesso, e a mentalidade do mundo não seduzam nossa vida. O que de fato orienta nossa vida e nossas decisões? A vida pode nos levar a decisões difíceis e complicadas: estas não podem ser feitas por apego aos bens, mas iluminadas pela Palavra de Deus. São nestes momentos que experimentamos o quanto realmente Deus conduz nossa vida. Com Jesus precisamos aprender um modelo e estilo de vida. Não adianta viver com fé e seguir modelos de vida sem Deus, que apostam tudo nas “coisas” do mundo. A vida nos leva a mexer com dinheiro, com poder, profissão, carreira e em tudo precisamos ser preparados e competentes, mas nada de tudo isso pode dominar nossa vida.
Só adoramos a Deus e a Ele entregamos a nossa vida!
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas- MG
Diocese de Guaxupé