Os talentos do amor.
HOMILIA XXXIIIº DOM COM
Este evangelho dos talentos nos coloca em comunhão com São Paulo quando termina o trecho que lemos hoje: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto não durmamos como os outros, ma sejamos vigilantes e sóbrios”.
A parábola toca o tema da vigilância, o que significa esperar como cristão, o que significa esperar a volta do patrão que nos deixou seus bens. Ser vigilantes e sóbrios, como fala Paulo, não significa estar atentos a chegada da fim de tudo, mas estar atentos a como viver, como valorizar e não esconder o dom da vida. Paulo diz que não somos da noite e portanto não dormimos. Ser da noite, nesta imagem paulina, e viver dormindo, é com estar ausentes a si mesmo, pessoas sem luz, sem um plano de vida, sem um sentido da vida. Vigiar neste sentido não é se preocupar quando e como vamos morrer, mas se preocupar em como vamos viver. O tema é caro a Jesus que nos ensina a valorizar o momento que vivemos, viver em plenitude fazendo toda nossa parte, como se fosse o ultimo momento da nossa vida.
Vigiar e viver a luz do dia, significa descobrir o sentido da vida, descobrir que Deus nos deu o talento do seu amor e este talento não pode parar em nós, mas tem que se multiplicar no nosso amor para com os irmãos.
A pior maneira que os homens escolhem para esconder o talento é uma vida organizada segundo o próprio egoísmo; são as pessoas que vivem apenas para si mesmas e são incapazes de fazer da própria vida um dom, um presente para os outros; só se mexem se ganham algumas coisas, só cuidam do próprio interesse, do próprio bem estar, dos próprios sentimentos, das próprias dores, das próprias dificuldades.
Doar é exatamente o contrário disso: viver para o outro, enxergar a própria vida como um dom para todos, agir sem interesse, cuidar do bem estar dos outros, entender os sentimentos dos outros (compaixão e ternura), aliviar as dores dos outros, socorrer o outroem dificuldade. Interessanteé pensar como o amor é uma força que produz amor, enquanto o egoísmo não produz nada. Quando estou numa atitude de doação nem precisa ser egoísta, porque todos querem cuidar de mim, todos me ajudam. Quando eu amo uma pessoa sem interesse gero nela também o desejo de amar.
O grande talento que Deus nos deu é a capacidade de amar. Muitas pessoas foram feridas no amor e desistiram dos seres humanos e preferem amar os animais que são fieis, não traem, não abandonam a gente; outras gostariam de amar apenas crianças porque são puras. Mas, não podemos desistir porque a capacidade de amar que temos é enorme: podemos amar nossa família, nossos amigos, nossa comunidade, os pobres, as crianças…, o amor nunca acaba, sempre tem mais dentro de nós! O amor gigantesco que sinto para minha mãe, não me impede de amar os pobres, ao contrário me faz amar mais os pobres. O amor só acaba quando é confundido com a posse; o amor possessivo realmente impede as pessoas de amar de verdade, limita demais os horizontes. Mesmo frases românticas, que parecem lindas, na verdade são totalmente erradas, como dizer “Você é só minha”, é uma bobagem enorme. Na verdade todos somos do mundo e não somos exclusivos de ninguém. Mesmo o marido e a mulher eles tem uma exclusividade de vida conjugal, mas isso não impede que no coração deles cabe o amor para seus pais, seus irmãos, seus amigos, os pobres, Deus e o mundo.
Cuidar dos próprios talentos para multiplicá-los significa viver a vida como um presente para todos que Deus colocar no meu caminho e por eles para o mundo inteiro.