O Mundo precisa de espiritualidade
Vi uma entrevista muito interessante, publicada numa revista brasileira, do cantor Bono Vox do grupo U2 e do seu guitarrista “Edge”, posicionando-se como grupo à beira da “insignificância” cultural. Ao ser questionado pelo entrevistador sobre a importância do grupo U2 no panorama internacional, Bono Vox respondeu que não saberia se no futuro próximo teria lugar para bandas assim, comprometidas com o social e a questão ambiental, e citou algo que me encontra plenamente de acordo com ele: “O problema do mundo não é econômico, mas espiritual. Precisa lutar contra o egoísmo e a ambição que estão destruindo os EUA e a Europa”.
Concordei com essa frase do Bono e fiquei me perguntando o que seria para ele o sentido da palavra “espiritual”. A sua resposta me fez pensar sobre o problema espiritual do mundo e achei importante comentar sobre isso.
O mundo precisa de mais espiritualidade. Muitas empresas internacionais já trabalham com isso. Muitos executivos procuram cursos de espiritualidade. O sucesso do livro “O monge e o executivo” de James C. Hunter, com subtítulo, “Uma história sobre a essência da liderança”, sugere esta necessidade de espiritualidade nas relações de liderança. Na contracapa se lê: “É impossível ler este livro sem sair transformado. O monge e o executivo é, sobretudo, uma lição sobre como se tornar uma pessoa melhor”. Este trabalho de melhorar a si mesmo tem muito a ver com espiritualidade.
Quando perguntaram a Dalai Lama qual seria a melhor religião na visão dele, ele respondeu : “A melhor religião é aquela que te faz melhor como pessoa.”
Portanto, espiritualidade tem algo a ver com esse esforço incansável, essa busca constante e decidida de encontrar o melhor de nós e agir como consequência. Enganam-se as pessoas que pensam que a espiritualidade possa ser funcional ao mercado e a melhores resultados econômicos. A espiritualidade não é um método de trabalho. A busca da espiritualidade é um jeito de ser. A esse respeito, veja as lúcidas palavras do Leonardo Boff: “A espiritualidade vive da gratuidade e da disponibilidade, vive da capacidade de enternecimento e de compaixão, vive da honradez em face da realidade e da escuta da mensagem que vem permanentemente desta realidade. Quebra a relação de posse das coisas para estabelecer uma relação de comunhão com as coisas. Mais do que usar, contempla.”
Realmente, este mundo e seus habitantes carecem de espiritualidade. Como dizia Bono Vox, a ambição e o egoísmo são o contrário da espiritualidade e levam o ser humano a ser da pior forma possível. O desejo desenfreado de posse e de poder desenvolve, no ser humano, atitudes altamente nocivas ao bem comum: destrói o meio ambiente, gera todos os tipos de violência, de desigualdade, de corrupção.
Ao contrário, a busca da espiritualidade nos dá uma visão da Terra como a da casa de todos e não de poucos. Coloca-nos numa atitude de comunhão com as pessoas e as coisas, e nos ajuda a fugir do desejo de posse.
Nesta busca sincera e constante, o ser humano se encontra consigo mesmo e com Deus. Quando atingimos o mais íntimo de nós, descobrimos Deus, descobrimos seu plano de amor. Quando atingimos bons níveis de gratuidade e disponibilidade, sentimo-nos abraçados por Deus e “instrumentos” de um plano de amor que supera nossos cálculos mesquinhos e egoístas.
A busca da espiritualidade leva-nos a sentir cada vez mais o desejo de Deus, da sua presença na nossa vida e no destino da humanidade como um todo. Torna-nos pessoas religiosas, isto é re-ligadas com Deus, com o mundo e o nosso próprio ser.
Ao contrario da espiritualidade, o materialismo vive da posse e do uso instrumental de tudo e de todos. Apaga o desejo de Deus e, com isso, o desejo do bem comum e de sermos pessoas melhores e autênticas; apaga também as perguntas sobre o sentido do mundo e da vida e nos faz sentir sem nenhuma integração com o resto da humanidade.