O Evangelho anuncia-se com doçura, fraternidade e amor e não com pancadas inquisidoras –
O Papa Francisco deslocou-se nesta sexta-feira de manhã à igreja de Jesus, (‘Chiesa del Gesù’), no centro de Roma, local especialmente caro aos membros da Companhia de Jesus, por ser dedicado ao Santíssimo Nome de Jesus, que se celebra neste dia 3 de janeiro, e por conservar o corpo de Santo Inácio de Loiola, fundador dos jesuítas.
Foi ali que o Santo Padre, primeiro Papa jesuíta na história, presidiu a uma missa de “ação de graças” pela canonização de Pedro Fabro (1506-1546), sacerdote da Companhia de Jesus e um dos primeiros companheiros de Santo Inácio. Concelebraram com o Papa Francisco o Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o Cardeal Agostino Vallini, Vigário para a Diocese de Roma, e D. Yves Boivineau, bispo de Annecy (França), onde nasceu São Pedro Fabro. Participaram também cerca de 350 jesuítas presentes em Roma.
Na sua homilia, o Papa Francisco recordou aos membros da Companhia de Jesus que “cada um de nós, jesuítas” está chamado a seguir Jesus que se “esvaziou”:
“Somos chamados a este rebaixamento: sermos esvaziados. Ser homens que não vivem centrados em si próprios porque o centro da Companhia de Jesus é Cristo e a sua Igreja. E Deus é o ‘Deus semper maior’, o Deus que nos surpreende sempre. E se o Deus das surpresas não é o centro, a Companhia desorienta-se. Por isto, ser jesuita significa ser uma pessoa de pensamento incompleto, de pensamento aberto: porque pensa sempre olhando o horizonte que é a glória de Deus sempre maior, que nos surpreende sem descanso. E esta é a inquietude da nossa voragem. Aquela bela e santa inquietude.”
Mas inquietos até que ponto? – perguntou o Santo Padre que de imediato disse ser a inquietude a paz do coração do jesuíta, uma inquietude que é também apostólica e sem ela o jesuíta é estéril. E foi com estas palavras que o Papa Francisco recordou Pedro Fabro “homem de grandes desejos” “espírito inquieto, indeciso, nunca satisfeito” e lançou algumas questões à assembleia que o escutava:
“Temos tambem nós grandes visões e impulsos? Somos também nós audazes? O nosso sonho voa alto? O zelo devora-nos? Ou somos mediocres e contentamo-nos das nossas programações apostólicas de laboratório? Recordemo-lo sempre: a força da Igreja não habita em si mesma e na sua capacidade organizativa, mas esconde-se nas águas profundas de Deus.”
O Papa Francisco recordou ainda Pedro Fabro como alguém que deu toda a sua vida para ter familiaridade com Deus, para ter um coração transplantado naquele de Jesus. E com estes sentimentos – continuou o Santo Padre – Pedro Fabro foi o autor de diálogo na Europa, dividida pela Reforma de Lutero, com a arma cristã da doçura. E o Papa Francisco concluiu a sua homilia afirmando as características fundamentais do anúncio do Evangelho:
“Penso nas tentações, que talvez nós possamos ter e que outros têm, de ligar ao anúncio do Evangelho pancadas inquisidoras de condenação. Não, o Evangelho anuncia-se com doçura, com fraternidade, com amor!” (RS)