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Destaques › 24/08/2011

No trilho da santidade de Madre Teresa

 
Considerada uma das mulheres mais influentes do século XX, Agnes Gonxha Bojaxhiu nasceu na actual Skopje, capital da Macedónia (à época Üsküb, integrada no império Otomano), a 26 de Agosto de 1910. Chegou a Calcutá no dia 6 de Janeiro de 1929, com 19 anos, assumiu o nome religioso de Teresa e em 1946, decidiu fundar a família dos Missionários da Caridade.

Em 1979, Madre Teresa recebeu o Prémio Nobel da Paz, como reconhecimento pelo seu trabalho. A 5 de Setembro de 1997, morreu na casa geral da congregação que fundou, em Calcutá, aos 87 anos de idade.

De passagem por Portugal, o responsável pela causa de canonização de Madre Teresa de Calcutá, padre Brian Kolodiejchuk, fala da vida de uma santa – à espera de um milagre que o confirme definitivamente – que viveu para os outros.

 E – As pessoas continuam em busca destes sinais de santidade. É importante perceber que as pessoas se sentem ajudadas pela beata Teresa de Calcutá?

BK – Uma das coisas mais bonitas da nossa fé é exactamente a comunhão com os santos – que nós tenhamos esta conexão. Muitas pessoas referem-se à Madre Teresa como um exemplo, inspirados pela sua vida, e agora na comunhão dos santos pedem a sua intercessão e reportam favores, mas não é fácil ter um prova do milagre no sentido restrito.

Estamos sempre a receber mensagens de pessoas que dizem que pediram a intercessão de Madre Teresa e foram ouvidas. É muito bonito ver que João Paulo II e Madre Teresa ainda estão muito na mente e no coração das pessoas, a viver uma comunhão muito bonita.

 E – Deve ser muito emocionante receber esses testemunhos…

BK – Muitas das histórias são muito bonitas, há o sentido de que existe mesmo uma ajuda, usando a palavra milagre: pessoas que pedem e recebem uma resposta.

Todos os anos, recebemos centenas de cartas e isso é uma pequena parte do que existe, porque as pessoas não relatam pequenas coisas. Recebemos mensagens de pessoas com dificuldades escolares, que estão à procura de emprego, que estão doentes, com problemas de álcool ou a querer deixar de fumar.

Mesmo quando ainda era viva, por exemplo, a Madre Teresa era muito boa a rezar a casais que não podiam ter filhos: em muitos casos as pessoas iam ter com ela e Madre Teresa dava-lhe um medalha milagrosa e dizia-lhes para rezar «Maria, Mãe de Deus, dá-nos um filho». Muito simples, muito directo e muitas vezes um ano depois voltavam com um filho. Em muitos casos a Madre dizia mesmo «vocês vão ter um filho», como se ela realmente soubesse que eles iriam ter filhos e, de facto, assim acontecia.

 E – As palavras, a vida de Madre Teresa eram, no fundo, muito simples. Residia aí o seu encanto universal?

BK  – Parte da grande atracção por Madre Teresa era o facto de ela ser tão universal e o seu trabalho ser concreto e visível. Isso levou as pessoas a ela e ainda agora, aqui em Lisboa, um casal me dizia que não eram católicos, não eram praticantes e souberam que Madre Teresa iria falar e foram. Estavam a poucos metros e à medida que ela passou por eles sentiram algo físico, como se ela tivesse uma espécie de aura. Ela comunicava pela sua santidade!

Ela própria dizia: façam coisas simples com um amor extraordinário, coisas pequenas com uma amor enorme. O que as irmãs fazem é isso, se tomarmos as suas acções  uma por uma são extremamente simples. Isto é algo não apenas admirável mas algo que nós podemos imitar.

Faça coisas pequenas, mesmo onde está, procure à sua volta, visite alguém, ajude-o a fazer compras, leia-lhe o jornal, basta até um sorriso, coisas que qualquer pessoa poderá fazer independentemente de onde está e da sua vocação.

 E – Há cada vez mais pessoas que não conheceram pessoalmente Madre Teresa. Como propor às novas gerações o seu legado como algo válido?

BK – Parte do trabalho da postulação e do Centro Madre Teresa é manter a imagem, memória, a vida de Madre na mente das pessoas. Este ano celebramos o centenário do seu nascimento e escolhemos como tema uma frase sua, «Fomos criados para coisas maiores, para amar e ser amado».

Estamos a olhar para a sua vida, uma vida e para a diferença que uma vida pode fazer, recordando-nos do que é fundamental, seja qual for a nossa vocação fomos criados para amar e ser amados. Não temos de fazer coisas extraordinárias, o que conta é o amor com que as fazemos.

 E – O que é que podemos descobrir por detrás da acção de Madre Teresa em favor dos mais desprotegidos da sociedade que a distinga claramente como uma referência da espiritualidade católica?

BK – O seu objectivo era comunicar o amor de Deus, através de gestos muito simples, de cuidado e carinho para com as pessoas que servia e isso era algo muito universal – talvez o mais universal desde uma figura como a de São Francisco de Assis, por exemplo.

Pelo seu tipo de trabalho, as pessoas tinham a noção de que ela era uma mulher católica e por isso havia uma motivação religiosa e especificamente, aos olhos da fé, havia a expressão do seu amor por Jesus: Ela costumava usar a citação do capítulo 25 do Evangelho de Mateus: «a mim mesmo o fizeste». Há este sentido místico de ver Jesus em cada pessoa.

A noção visão cristã dá-nos também o sentido real do valor de cada ser humano, da vida.

 E – Nesse sentido, Madre Teresa pode ser uma inspiração para os católicos que têm compromissos sociais?

BK – Há uma combinação entre o que é a motivação pessoal e as diferentes maneiras como podemos prestar esse serviço. Madre Teresa tinha uma vocação específica de ajuda imediata e efectiva. Por um lado, servir Jesus, ser a sua luz, o seu amor e, por outro, ao fazer isso, ver Jesus no outro. É um combinação do sobrenatural, mesmo místico, com o serviço específico, concreto que os cristãos são chamados a prestar.

 E – Esse lado místico levou a alguns mal-entendidos sobre Madre Teresa, aquando da publicação, em 2007, do livro «Mother Teresa: Come Be My Light» (Madre Teresa: vem, sê a minha luz).

BK – Sim. Parte da confusão veio do facto de a imprensa secular relatar que Madre Teresa não tinha fé ou tinha perdido a fé, mas as pessoas começaram a ler o livro e, felizmente, aperceberam-se da profundidade desta santidade.

Ela viveu em união com Jesus, viveu perto dele com uma paixão verdadeira, a fé pura e nua de que Jesus podia partilhar com ela o seu sofrimento intenso na cruz e, ao mesmo tempo, havia um lado também místico, ela identificava-se com aqueles que tinham uma pobreza interior. Madre Teresa dizia que a maior pobreza no mundo de hoje é não se ser amado, desejado e tratado. Ela experimentava esse mesmo tipo de sofrimento, em união com Cristo na cruz.

No nosso entendimento da redenção, Jesus estava na cruz por nós e, por isso, em união com ele, podemos identificar-nos com ele, mesmo sofrer por ele.

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