Não ficará pedra sobre pedra- homilia do 33º Domingo do Tempo Comum- Pe Graciano
O evangelho deste domingo (Lc 21, 5-19) é um exemplo muito claro de um tipo de textos bíblicos que compõe uma parte importante da Bíblia, ou melhor um dos temas importantes das sagradas escrituras: o tempo final, os últimos tempos, ou melhor ainda a grande questão: para onde vai o mundo?
Para os seguidores de Jesus a ressurreição é o começo de um mundo novo, de um novo tempo, mas o mundo “antigo” dominado pelas potências do mal, não vai se entregar tão fácil. Nesta passagem, vai existir um tempo de luta, de perseguição. O assunto de Jesus começa porque ouviu pessoas que admiravam o templo de Jerusalém. Este templo que Jesus conheceu na sua chegada em Jerusalém existia desde 515 a.C., quando foi reconstruído depois do exílio da Babilônia e era chamado também de Templo de Herodes, pois foi ele que ampliou este templo a partir de 19 a.C., e os trabalhos terminaram em 64 d.C.!
Como Jesus profetizou 40 anos antes de acontecer, ele foi inteiramente destruído e arrasado no ano 70 d.C., pelo general romano Tito. Quando Lucas escreve o evangelho o templo já havia sido destruído e estava acontecendo a primeira persecução dos romanos contra os cristãos promovida por Nero, que, para se livrar da acusação de ter colocado fogo na cidade de Roma, acusou os cristãos.
Lucas então dentro das fontes que tinha lembra as comunidades dos seguidores de Cristo as palavras que Jesus havia dito em relação a tudo que estava acontecendo. Apesar de anunciar perseguição, guerras e calamidades naturais todo o discurso de Jesus é marcado por palavras de esperança: não será logo o fim… não fiquei apavorados… eu vos darei palavras acertadas…não perderei um só fio de cabelo….permanecendo firmes que ireis ganhar a vida.
O que tudo isso pode significar hoje para nós?
Primeiro podemos entender que a destruição do templo mostra que não podemos confiar naquilo que passa. Os Judeus acreditavam que Deus Javé morava no templo e por isso ele era indestrutível. A fé tem que ser a comunhão com Deus, a vivência da sua Palavra, a prática da oração e da vida espiritual, a prática do amor fraterno e da justiça a maneira de Deus. Hoje se percebe que as pessoas pouco se preocupam coma própria salvação, mas muitos procuram um Salvador, aquele tipo de pessoas que vem dizendo “sou eu”, “o tempo está próximo!”, mas Jesus alerta: não sigais esta gente.
Isto hoje não é exatamente uma pessoa, mas pode ser uma ideologia, uma cultura dominante, uma moda e maneira de viver que vem tomando conta de todos. Quem fala forte no nosso tempo é o poder financeiro que apresenta seus modelos de vida, que decide os níveis sociais das pessoas, que emprega e desemprega como quer, sempre visando lucros e não o bem das pessoas e uma vida digna para todos.
Em nosso meio também somos afetados por isso e muito condicionados em nossos comportamentos. A perseguição dos nossos tempos, na maioria dos casos, é muito mais uma sedução/ilusão do que uma ação violenta.
Para uma cultura sem Deus não precisa nos atacar, é suficiente tirar de nós a comunhão com Deus, a coerência com o evangelho, como lembra Papa Francisco: “há muito cristão que vivem como se Deus não existisse, como se os pobres não existissem” e ainda “muitos cristãos repetem os gestos e os sinais da fé, mas a eles não correspondem uma real adesão à pessoa de Jesus e ao seu Evangelho”.
Por isso somos chamados a perseverar com firmeza, a discernir o que realmente é caminho de Deus e com Deus. Precisamos ter o evangelho como luz para interpretar os nossos dias e assumir modelos de vida cristãos, enraizados na fraternidade, na compaixão, na acolhida do outro, na busca da justiça. De tudo que é “material” não ficará pedra sobre pedra, só ficará em pé a construção espiritual da nossa vida. Tudo passa, diria São Paulo, só o amor permanece!
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas- Mg
Diocese de Guaxupé