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Paróquia hoje:

MISSAL ROMANO – NOVA TRADUÇÃO

 

 

MISSAL ROMANO – NOVA TRADUÇÃO

Você já sabe que em uma celebração litúrgica da Igreja não usamos folhetos, livrinhos, periódicos, revistas ou subsídios para acompanhar a celebração, não é? Isso porque nosso olhar e nossa atenção devem estar voltados para as pessoas que desenvolvem um serviço – ministério – na celebração (presidência, leituras e outros) e para os elementos do espaço litúrgico (ambão, altar, cadeira da presidência). Daí não usarmos também projeção de eslaides durante as celebrações, a fim de que nosso olhar não seja desviado e permaneça atento à essencialidade do que estamos celebrando.

Você já sabe também que, na Sagrada Liturgia, nossa Igreja utiliza o Evangeliário, os Lecionários e o Missal Romano.

O Evangeliário e os Lecionários são os livros que contêm as leituras bíblicas que proclamamos na Liturgia da Palavra. São os livros sagrados.

O Missal Romano é o livro das orações da missa. O livro que nos orienta como bem celebrar e que nos conduz, pedagogicamente, ao mistério por meio dos ritos e preces (Sacrosanctum Concilium 48).

O Missal ensina o que é a oração, como rezar, a quem ela se dirige, como ela se formula, o que pedir. Sempre ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.

Você já deve ter observado o Missal muitas vezes na missa, mas nem sempre dedicou atenção a esse livro grande, de capa vermelha, cheio de fitas entre as páginas, que fica sobre o altar em alguns momentos e que acólitas, acólitos ou coroinhas (libríferos) seguram para que o presidente da celebração acompanhe as orações e reze com a assembleia.

Pois bem! Antes do Concílio Vaticano II (1962 a 1965), nós rezávamos a missa em latim. Havia pouca participação do povo. Não conseguíamos acompanhar as orações. Pós-Concílio, passamos a rezar a missa na língua vernácula, ou seja, na língua própria de cada país. Foi uma linda e importante mudança, registrada no Missal Romano.

A Primeira edição típica (Paulo VI) é de 1970 e passou a vigorar no Brasil em 1973. A Segunda edição típica (Paulo VI) é de 1975. E a Terceira edição típica (João Paulo II) é de 2002 (revisada em 2008).

Agora, a partir do primeiro domingo do Advento, em 2023, a Igreja no Brasil passará a usar obrigatoriamente a nova tradução da terceira edição típica do Missal Romano.

Veja bem que não se trata de um novo missal. Não se trata de uma nova forma de celebrar a liturgia, de celebrar a missa. Mas sim de uma atualização na tradução do Missal Romano, incorporando a vida que a Igreja foi vivendo, os caminhos que a Igreja foi trilhando, as novas disposições litúrgicas e canônicas que foram sendo implementadas no percurso eclesial do povo de Deus. É muito bonito perceber o esforço que nossa Igreja faz para ajudar nosso povo a se reunir, a suplicar, a dar graças, a partilhar o pão e a vida, e a sermos um só em Cristo. O Missal tem que expressar nossos gestos, nossas palavras, nosso jeito de rezar. Até mesmo nosso silêncio, elemento tão importante (e tão esquecido) nas nossas celebrações.

Portanto, não é um novo Missal, mas uma nova tradução. Este trabalho, cuidadoso e detalhado, vem ocorrendo desde 2002 e passou pelo crivo e aprovação dos bispos do Brasil nas suas muitas assembleias, e, depois, pelo estudo e autorização de Roma.

A nova tradução é mais fiel ao latim e à nossa língua portuguesa, considera a cultura do nosso povo, traz mais beleza, expressividade, sonoridade e poesia oracional ao que rezaremos nas celebrações, além de estar assentada no que há de mais profundo em termos teológico-litúrgicos.

Mas é essencial retomarmos um aspecto basilar: a gente deve compreender que, na nossa Igreja, o mais relevante é a proclamação e a escuta da Palavra de Deus presente nas Sagradas Escrituras. Na ausência da Palavra, proclamada e escutada, perde-se completamente o sentido de termos textos litúrgicos, textos eucológicos ou missal.

O livro fundamental na celebração eucarística é o Evangeliário. Ele é levado em procissão. Ele é incensado. Ele permanece no altar até a aclamação ao Evangelho. Ele é beijado. O Missal não é livro de nada disso. E como é o livro das orações das missas, não é utilizado nas celebrações da Palavra presidida por leigas e leigos.

O Missal é importante porque garante que a Igreja, povo de Deus, reze com objetividade, sensibilidade e profundidade; conduz à educação na fé; alimenta nossa vivência cristã; promove a oração comunitária; auxilia-nos a viver intensa e frutuosamente a liturgia. E, é preciso assinalar, evita o estrelismo dos presbíteros, infelizmente ainda presente em muitas paróquias e, especialmente, nas missas televisivas.

Uma nova tradução nos insere, de maneira mais participativa, mais consciente e mais plena nos ritos celebrativos.

Você perguntaria talvez: mudou muito coisa entre esta nova tradução e a tradução ainda em vigor até o final do ano litúrgico?

Não, não mudou muita coisa, mas tivemos algumas mudanças significativas. Vou assinalar alguns exemplos:

  • Antes só tínhamos a missa do dia na Epifania; agora teremos uma missa da Vigília.
  • Agora teremos fórmulas próprias para a Oração sobre o Povo, desde a quarta-feira de Cinzas até a missa da quarta-feira da Semana Santa. Antes nós não tínhamos.
  • No Tríduo Pascal, mais especificamente na Quinta-feira Santa, Missa da Ceia do Senhor, no Lava-pés, substituiu-se a expressão “homens escolhidos” pela expressão “pessoas escolhidas”, o que inclui mulheres e homens (e apenas como adendo pastoral: lembro que as pessoas escolhidas jamais devem estar usando túnicas, mas sim roupas civis).
  • Nas celebrações de Pentecostes, tínhamos a vigília e a missa do dia. Agora a Missa da Vigília I, a Missa da Vigília II (em forma prolongada com cinco leituras mais o Evangelho) e a missa do dia.
  • Foram incluídos novos prefácios.
  • As Orações Eucarísticas foram minuciosamente revisadas. Agora, cada Oração Eucarística começa com “O Senhor esteja convosco!”
  • São José cuja menção aparecia na Oração Eucarística I, agora também é mencionado também nas orações eucarísticas 2, 3 e 4.
  • A Aclamação Memorial, depois do relato da instituição não será mais introduzida com a expressão “Eis o mistério da fé”, mas “Mistério da Fé”.

São mudanças muito adequadas e necessárias, não é mesmo? Mas não se esqueça: a primazia é da ação litúrgica, não do livro. Ou seja, é preciso passar do livro à celebração e praticarmos o que rezamos nas celebrações: a acolhida, o perdão, a esperança, a comunhão, a partilha, o ofertório de nossas vidas, o desejo de paz.

Os ritos e as orações litúrgicas previstas no Missal e vivenciadas na celebração têm que nos impulsionar às práticas amorosas de construção do Reino de Deus no cotidiano. Viver a vida, levando-a para a liturgia; viver a liturgia, levando-a para a vida. O que celebramos dá sentido à nossa vida? O que celebramos vivemos no dia a dia?

Carlos Alberto de Moraes é professor, pedagogo, ativista em Direitos Humanos, ministro da presidência leiga, membro do Secretariado Arquidiocesano de Liturgia de BH. O texto tem como referência as aulas do Bispo Dom Edmar Peron.

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