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Notícias › 11/09/2018

Mensagem dos bispos da Província Eclesiástica de Pouso Alegre para as Eleições 2018


Tomar a sério a política, nos seus diversos níveis, […], é afirmar o dever do homem, de todos os homens de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade. A política é uma maneira exigente […] de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros”. (Beato Paulo VI, Octogesima Adveniens, n. 46)

Graça e paz!

Nós, bispos da Província Eclesiástica de Pouso Alegre, formada pelas dioceses da Campanha, Guaxupé e Pouso Alegre, nos dirigimos a todas as pessoas, cristãs católicas e aos homens e mulheres de boa vontade, para apresentar, como pastores à serviço do Povo de Deus, nossas reflexões sobre o momento em que nos encontramos, em relação às eleições que se realizarão neste ano de 2018. Trata-se de um grande desafio a toda a sociedade que, esperamos, a partir das Sagradas Escrituras e do Ensino Social da Igreja, colaborar para que seja enfrentado à luz da fé.

Primeiro, esclarecemos que a Igreja, enquanto instituição, não assume opções partidárias, mas empenha-se na luta geral pela justiça, ajudando a iluminar a razão e a formar a consciência das pessoas. Buscamos, assim, compreender as várias dimensões da vida humana, pessoal, comunitária e social, em suas “alegrias e esperanças, tristezas e angústias”, para contribuir na promoção da “vida plena para todos”, pois entendemos que esta é tarefa integrante do ser cristão. A missão da Igreja é Evangelizar e quando ela fala de política é porque reconhece que o Evangelho tem implicações sociais, ou seja, a Palavra de Deus deve fazer eco na vida de todas as pessoas, em todas as dimensões, inclusive na dimensão política.

1. A esperança vence a desilusão

Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, há um processo de desvalorização e deslegitimação dos governos, mesmo os constituídos na legitimidade democrática, tendo como consequência a sensação de que a atividade política não leva a lugar algum e nem adianta votar. Entendemos que muito da desilusão com a política vem do modelo de democracia representativa (o poder exercido pelos que são eleitos e deveriam representar os seus eleitores) que está em crise, não mais respondendo aos novos sujeitos históricos (pessoas, grupos, organizações) que exigem uma mais ampla participação na construção e ação do Estado.

O que se percebe, ao analisar o papel dos políticos, é que muitos deles, sendo eleitos pelo povo, não o representam, mas atuam no sentido de defender os interesses do poder econômico (grandes empresas, corporações, bancos etc.). Esses interesses são defendidos com a proposta do neoliberalismo, corrente de pensamento econômico que prega um Estado mínimo, que oferece muito pouco à grande parte de sua população, esperando que isso fortaleça as grandes empresas, principalmente, de prestação de serviços como educação, saúde, segurança, cultura etc. Essa união entre políticos e grandes grupos econômicos também contribui para a corrupção reinante nos vários âmbitos da sociedade. Alertamos que é ética e cristãmente inaceitável quando a busca do lucro é feita pela desigualdade, buscando apenas a vantagem para um pequeno grupo de pessoas ou instituições, criando notáveis ganhos para si a custo do sofrimento de outros; “isso é lucrar desfrutando da própria posição dominante com injusta desvantagem do outro ou enriquecer-se gerando dano ou perturbando o bem-estar coletivo”.

O imperativo da vida plena para todos nos obriga a pensar uma resposta eficaz para essa crise que ameaça, principalmente, os mais fracos e desprotegidos. Os cristãos e cristãs não devem se deixar levar pelo desânimo, mas descobrir, atrás das aparências, as possibilidades reais de mudança na condução política do País e do mundo. Por isso, queremos destacar a esperança, revalorizando a política, mesmo e principalmente num momento em que o Brasil vive sérias crises. Devemos professar que a fraternidade é o maior valor do bem comum.

É por meio da política que cuidamos da vida de uma cidade, de um povo, da humanidade e da criação inteira. Mas, destacamos aqui o serviço aos pequenos, aos pobres, aos preferidos de Deus. Assim, atenta ao seu exercício, a Igreja é impelida a ser “advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu”.

2. Ser sal e luz também na política

A Igreja deseja a mobilização de todos, independentemente de partidos políticos, em vista de uma convivência pacífica, fraterna e solidária. Falamos especialmente aos leigos e leigas cristãs que, a partir de sua vocação específica, vivem o seguimento de Jesus também nas variadas formas de participação na sociedade civil, colaborando assim na construção de uma sociedade, que seja sinal do Reino de Deus inaugurado por Jesus de Nazaré. Diante da fé, o cristão e a cristã devem ser sal da terra e luz do mundo e, diante do sentimento difundido de que discutir política é perda de tempo, é preciso considerar a importância desse debate, quando feito com respeito e profundidade, para a construção de um espaço democrático.

2.1.Aos candidatos e candidatas

Aos cristãos e cristãs que se propõem a caminhar na difícil, mas importante, missão no mundo da política, como candidatos(as) ou como seus assessores(as), lembramos que Jesus Cristo ensinou a seus discípulos que a atitude básica do cristão revestido de poder é a atitude de serviço, não de dominação nem de busca do proveito pessoal. Por isso, o cristão leigo e leiga deve sempre buscar a coerência entre ser membro da Igreja e ser cidadão, consciente da necessidade de encontrar mediações concretas políticas para a prática do mandamento do amor, de forma especial, em favor dos marginalizados, visando à transformação das estruturas sociais injustas. Recordamos também as palavras do Papa Francisco que descreve algumas características que devem ter os dirigentes políticos:

  • a) que vivam com paixão o seu serviço aos povos, que vibrem com as fibras íntimas do seu etos e da sua cultura, solidários com os seus sofrimentos e esperanças,
  • b) que anteponham o bem comum aos seus interesses privados,
  • c) que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e mediáticos,
  • d) que sejam competentes e pacientes face a problemas complexos,
  • e) que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático,
  • f) que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação,
  • g) capazes de mobilizar vastos setores populares seguindo grandes objetivos nacionais e continentais.

Cabe-nos destacar aqui a necessidade de se pensar a democracia de forma mais participativa, ampliando os canais de participação popular nas decisões políticas, como o orçamento participativo, os conselhos de direito e de políticas públicas, as conferências e os plebiscitos, muitos deles já previstos na Constituição Federal de 1988.

2.2 Aos eleitores e eleitoras

Aos cristãos leigos e leigas e aos homens e mulheres de boa vontade que votarão nestas eleições, orientamos a, primeiro, lembrar sempre que “voto não tem preço, tem consequências”, começando por analisar as nossas próprias práticas políticas. Não troquemos nosso voto por coisas ou promessas pessoais. Também é preciso conhecer os candidatos e suas propostas, o quanto defendem a dignidade da vida, em todas as suas fases. Chamamos a atenção para que tenham cuidado com os candidatos:

  • a) que improvisam políticas, incapazes de apresentar metas claras de governo, políticas consistentes, planejadas e definidas por etapas e orçamentos;
  • b) oportunistas, sem compromissos com partidos, que têm como prática a compra de votos, e prometem favores;
  • c) sustentados por campanhas financeiras caras, que facilitam a compra de votos, pois eles vão tentar recuperar, de alguma forma, o investimento que fizeram.

Consideremos também os partidos dos candidatos. Cada partido tem um programa, que é formado por uma série de princípios que segue e que seus filiados devem também seguir ao votarem, por exemplo, em projetos como a Reforma da Previdência, as leis trabalhistas, o Estatuto do Desarmamento, as leis ambientais, etc. Vejamos se esses partidos defendem os interesses do povo e o bem viver de toda a criação, ou se defendem os interesses das grandes empresas, da indústria do armamento, ou dos que prejudicam o meio ambiente em favor de seus lucros, colocando em risco a vida das pessoas, principalmente, dos pobres.

Quando falamos da defesa da vida, queremos salientar que é de toda a vida e da vida de todos, em todas as fases; uma vida que seja digna desde sua concepção à sua morte natural, passando pela infância, juventude e maturidade. A vida humana, como nos lembra o Papa Francisco, é sempre sagrada: “sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte”.

Os políticos e seus partidos devem ter clareza ao explicitar o que chamam de defesa da vida e nós também, ao observarmos seus discursos e suas promessas. Devemos buscar colocar nossas escolhas naqueles e naquelas que atuam em favor da vida plena para todos e todas, principalmente, buscando superar as situações de desigualdade social, as condições precárias de saneamento, a falta de trabalho e renda, a falta de moradia, a baixa qualidade na educação e no acesso ao ensino em todos os níveis, a precariedade na saúde pública etc. Repetimos com o papa: “nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma veneranda velhice”.

3. Em defesa da democracia e do respeito mútuo

As desilusões diante da política, das quais falamos aqui no início desta mensagem, também levam, além da indiferença e do descaso, a uma outra postura que, da mesma forma, é negativa e perigosa: a do entendimento de que, pela força das armas e pelo autoritarismo se pode “consertar as coisas”. Por mais difícil que seja construir a democracia, ela deve ser a grande ferramenta da política e da sociedade como um todo. O respeito aos direitos humanos e à legislação que construa o bem comum, a justiça e a paz deve prevalecer, por mais que os tempos pareçam difíceis. É preciso corrigir rotas, arrumar caminhos, melhorar as instituições democráticas para que sejam mais democráticas. E isso se faz com a construção de uma cultura do respeito, do diálogo e da busca do bem comum, da ética e da cidadania.

Cuidemos de nossos discursos. É bom debater a política, procurar entender as propostas dos candidatos e candidatas, mas tenhamos cuidado com as informações que chegam até nós e que, muitas vezes, reproduzimos para outras pessoas e grupos, sem o cuidado de verificar se são verdadeiras. As mídias sociais digitais têm possibilitado muita coisa boa, mas também podem ser canais de violência, desrespeito e de mentiras. Essas coisas são obra do diabo, aquele que divide, o pai da mentira. Sejamos luz também nesses espaços, testemunhando nossa filiação divina, Daquele que nos fez livres por seu amor.

Cuidemos também de tratar a todas as pessoas com respeito e dignidade, mesmo não concordando com suas opiniões. Todos temos o direito de expor nossas ideias, mas também o dever de respeitar o mesmo direito das outras pessoas. Precisamos acabar com essa cultura que se instalou entre nós, de brigas e ofensas por causa da política. Aprendamos, com Jesus, a ser mansos e humildes de coração, a viver a cultura do encontro, como propõe o Papa Francisco, e a valorizar a verdade, a justiça e a paz.

Por fim, conclamamos a todas e todos que vivamos a missão do povo de Deus de assumir o compromisso sociopolítico transformador que nasce do amor apaixonado por Cristo e que leva à construção de uma sociedade fundamentada na justiça e na paz.

Que Maria, mulher, mãe e discípula, nos ajude a proclamar a grandeza do Senhor, que eleva os humildes e sacia os famintos.

Dom José Luiz Majella Delgado C.Ss.R- Arcebispo Metropolitano de Pouso Alegre

Dom Pedro Cunha Cruz- Bispo da Diocese da Campanha

Dom José Lanza Neto- Bispo da Diocese de Guaxupé

Texto publicado originalmente no Jornal Comunhão da Diocese de Guaxupé

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