Maria: a primeira de muitos- Homilia da Solenidade da Assunção de Maria- Pe Graciano
Celebramos neste fim de semana uma grande festa de Maria. Maria é nomeada pela última vez no Novo testamento no versículo 14 do primeiro capítulo dos Atos dos Apóstolos. A partir daquele momento não sabemos mais nada, nem onde morou, nem por quanto tempo. Há tradições antigas e até bonitas que dizem que Maria morou em Jerusalém, na mesma casa onde foi a última ceia. Outras fontes apócrifas dizem que ele foi morar com o apóstolo João em Éfeso, onde ainda hoje é cultuada uma casa dita ser de Maria. Enfim a igreja recebe todas as tradições com carinho e vê em tudo isso a grande importância e amor que a mãe de Jesus recebia nas comunidades do oriente cristão.
A partir do VIº Século se divulgaram as devoções sobre a sua “dormitio”, nem de morte se falava, mas é claro que Maria faleceu como faleceu Jesus e seu corpo, a sua pessoa na totalidade foi levada ao céu.
Lindos ícones antigas retratam Maria deitada após a sua morte e todos os apóstolos ao seu redor que olham para aquilo que era visível, o corpo de Maria aparentemente sem vida. Mas nas costas dos Apóstolos aparecia o mundo de Deus com Jesus ressuscitado que carrega no colo sua mãe como criança que acabou de nascer, enquanto os apóstolos enxergavam apenas Maria adormecida na morte, ela havia nascido pela segunda vez e desta vez para sempre e estava no colo do seu filho Jesus. A realização da bem-aventurança: “Felizes os puros de coração porque verão a Deus”, aquilo que não é visível aos olhos humanos. A pureza de coração de Maria lhe fazia ver o “invisível”, o agir de Deus, a obra de Deus.
Maria então faz de maneira extraordinária o caminho que é de todos nós, destinados ao nascer no céu na nossa ressurreição.
O que ela diria hoje a cada um de nós: “vive na terra como servo do Senhor, assim como eu fui a serva do senhor e da sua palavra, me preparei para ressuscitar e viver para sempre junto do meu filho Jesus”. Como ouvimos no evangelho Maria proclama o hino de libertação, o Magnificat, que fala do Reino de Deus que acontece. Maria não era unida apenas a pessoa do seu filho, mas profundamente unida a missão de Jesus, o Reino de Deus. Maria não era como são hoje muitos cristãos que querem Jesus para si mesmo, querem Jesus, mas não querem o Reino de Deus, não querem ajudar Jesus a construir o Reino de Deus.
“O Poderoso fez por mim maravilhase Santo é o seu nome!
Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam.
Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos.
Derrubou os poderosos de seus tronose os humildes exaltou.
De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos.”
Desta maneira Maria acolhida no céu nos ensina que a vida dos discípulos deve ser um compromisso na terra para construir com Jesus o seu Reino de Amor e justiça, mas sem nunca deixar de olhar para o céu, de onde vem a nossa força. A Assunção de Maria nos ensina que o nosso esforço de amar o próximo se mistura com a oração que faz com que na luta pela vida, pela evangelização, pelas nossas comunidades, pela família, não somos nunca sozinhos, mas a força de Deus está sempre conosco.
Maria nos ensina a viver a vida terrena com a qualidade da vida eterna, a vida do Eterno Deus: o amor, a compaixão, a misericórdia, a fraternidade, fazem da vida terrena o início do céu que todos um dia alcançaremos. Quem com Cristo luta nesta terra, por ele será carregado no novo nascimento que é a ressurreição.
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas- MG | Diocese de Guaxupé
Explicação do ícone:
Enquanto os apóstolos só enxergam o mundo terreno, Maria adormecida na sua morte, atrás deles aparece o mundo de Deus, onde Jesus carrega sua mãe Maria que aparece como uma recém nascida, pois na ressurreição nasce pela segunda vez, e nasce para sempre.