Gente sem rumo, gente perdida- Homilia do 16º Domingo do tempo comum- Pe Graciano
O fato que hoje nos mostrou o trecho do evangelho que foi proclamado (leia aqui) é simples e grandioso ao mesmo tempo. O povo procura uma luz, o povo procura um caminho novo, procura uma esperança. Enxerga que Jesus é tudo isso. Jesus não consegue ficar sozinho pois a procura é muita. No final a frase que explica tudo:
“viu a multidão e teve compaixão pois eram como ovelhas sem pastor”
A compaixão de Jesus é sentir o drama do povo, sentir sua dor, sua necessidade de vida. Compaixão é sentir a mesma dor que você sente. Compaixão é não passar para frente sem fazer nada, sem pensar que preciso resolver, fazer algo, pois, você e eu, somos o mesmo corpo que sofre, a mesma vida que padece.
Eu sei que hoje as pessoas têm a mesma sede de vida, de plenitude, de Deus. Sei que Deus continua com a mesma compaixão. Só que nós somos pessoas que precisam, mas não querem ser ajudadas. Confundimos nossas angustias, nossa ansiedade, a falta de paz interior com outras coisas e buscamos caminhos rápidos com efeito imediato. Desta maneira erramos o tempo todo buscando paliativos ou caindo na ilusão: ilusão que uma bebida resolve, ilusão que o carro novo resolve, ilusão que uma viagem resolve (para quem pode, não é!?). Há maneiras mais trágicas, quando a ilusão chega a ser uma dependência que conduz a destruir a própria vida!
De qualquer maneira acontece que na maioria das vezes não acertamos o alvo. E acontece que reproduzimos comportamentos sem nem mais saber o porquê. Igual aquela pessoa que já bebia demais e alguém perguntou:
“Mas por que você bebe tanto assim?”
Ele disse: “para esquecer!”.
O outro perguntou: “Mas esquecer o que?”.
E ele respondeu: “não me lembro!”.
Precisamos quebrar este estilo de vida “sem estilo”, este fazer sem saber, este sentir algo dentro que incomoda e não dar respostas, este correr e fazer para não ter que pensar. Deus com sua compaixão está pronto a acolher nossa vida, nossos anseios, nossa luta. Para isso precisa porém uma postura nova que envolve pelo menos dois elementos:
- parar de fazer aquilo que sabemos que está errado e continuamos fazendo.
- parar para pensar mais, rezar mais, ouvir mais a voz de Deus que sempre nos fala, ouvir mais esta voz interior que é sua presença em nós.
Até a oração pode ser consumida sem sentido. Se decidimos de rezar mil Ave-Marias, que sejam orações de verdade, todas ou quase! Aprendemos a rezar com a Palavra, a questionar Jesus perguntando: “me explica Senhor porque falaste desta maneira.” Fazer da leitura um encontro com Jesus.
A compaixão de Deus existe! Mas precisamos acolher, precisamos receber, precisamos deixar um lugar para Deus falar para gente. Barulho, confusão, correria, ilusão, compulsão… Deus não tem vez. Deus olha para nós com aquele amor infinito e quase deve lamentar: por que este filho não se deixa amar? Por que quer fazer tudo sozinho? Por que não acredita no meu amor?
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas- MG | Diocese de Guaxupé