Dentro da realidade dos extremos de riqueza e pobreza, em que uns têm demais e grandes parcelas têm de menos, é muito importante a formação para o cultivo da simplicidade. Isso exige vida menos luxuosa de elites, que quase não pagam impostos em comparação com os assalariados. A hipoteca social da riqueza deveria incluir a exigência de mais tributos por parte de quem recebe muito em relação à maioria. Abusos de salários e aposentadorias de determinados grupos privilegiados de vários poderes gritam por justiça.
Quem assume a vida com valores transcendentes deveria olhar para o objetivo da mesma. Em agradecimento ao Criador pelo dom da vida e pelas oportunidades de realizar o bem da comunidade, tais pessoas poderiam contribuir mais com uma convivência de promoção real da inclusão social dos mais fragilizados. A recompensa virá, não somente de Deus na eternidade, mas também já na terra, com sua respeitabilidade e reconhecimento de seu bom exemplo. A vida vale e recompensa por si mesma quando se usam os talentos para o serviço ao semelhante.
Nada é mais seguro na vida do que realizar o bem ao outro por causa daquele que nos criou para isso. As seguranças terrenas são importantes, mas não são objetivo de vida. São instrumentos a serem bem usados. Distorcidos, corrompem o coração, a mente e o convívio social. Assim são as coisas materiais, os prazeres e o poder. Tudo tem seus valores e suas normas objetivas. Se as normas forem apenas o desejo pessoal e os instintos, ficamos no chão da vida sem olhar para o objetivo mais elevado. A natureza criada por Deus já o revela. O que dirá o Filho de Deus (Cf. Colossenses 3,1-2)! Ele não tinha nem onde reclinar a cabeça. Deu tudo de si, mostrando que a vida vale para darmos vida de sentido aos outros!
Jesus lembra que a ganância não realiza a pessoa humana. A felicidade não está na abundância de bens. Ele narra a estória de um homem que fez grande armazenamento do que colheu da plantação, pensando que ia ter vida cômoda por muitos anos. Mas, de repente, morreu e não usufruiu do que acumulou (Cf. Lucas 12,13-21). Quem mais tem coisas e exagerado bem estar materiais, em geral não se contenta com o que tem. Muitos não têm paz na vida, preocupados em administrar suas riquezas materiais. Outros têm pouco e são felizes por realizarem o bem. É justo ter o necessário para se viver dignamente e fazer o bem, mesmo tendo bastante, para servir a comunidade. Os bens sem hipoteca social são ilusão e vaidade inútil.
Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo de Montes Claros (MG)