Esperamos a Quem ? Uma reflexão com o seminarista Jeremias
A mídia reflete a grande expectativa quanto à crise financeira internacional. Situações parecidas ocorrem quanto à violência, educação, políticas internas e outras. Todos comentam os problemas da humanidade e muitos ainda esperam por um salvador que salve as instituições financeiras o mais rápido possível. Mas o reflexo imediato desta atitude de espera cai sobre os ombros daqueles que pegam o jornal e a revista do lixo para tirar deles uma economia reciclável para a subsistência de suas famílias. Cai sobre os ombros dos mais pobres, vítimas da política, da religião, da economia e da sociedade. Ao depararmos com eles na rua, ficamos indignados. Poderíamos até nos desesperar nessa situação, se é que a imaginamos… Mas, eles sim, podem falar de esperança e em quem confiar, pois continuam lutando pela vida, e mesmo quando caem, encontram forças para se levantar.
Os mais excluídos da sociedade, formados por mendigos, migrantes, desempregados, entre tantos outros, são interpretados como sendo, por vezes, ladrões e malfeitores e, na melhor das hipóteses, como “incômodos” ou meios “para se fazer caridade”.
Esse povo faz lembrar o grupo de pessoas que viu em Jesus o Messias esperado e, pior, de um jeito totalmente diferente daquele Messias que os grandes da corte queriam (Lc 1,46-56). Viam-no muito mais parecido com o Messias esperado no livro de Isaías: o Messias em favor do pobre, que veio para todo tipo de presos, cegos e os oprimidos e, enfim, para proclamar o ano de graça do Senhor (Is 61,1-2; Lc 4,18-19).
A nossa esperança vem de Deus, mas não é como a esperança depositada em um presidente ou economista preocupado em salvar a economia vigente ou as crises do status quo. Não esperamos um “pai dos pobres” que faça a manutenção das classes sociais, que dê um pouco de pão e entretenimento aos necessitados. A nossa esperança é diferente, pois nasceu para nós um menino e este sim é o “Pai para sempre”, o “Príncipe da Paz”, que traz consigo o direito e a justiça (Is 9,5-6).
Vale a pena recordar que nós temos uma boa notícia para todos: esperamos um grande tempo – a troca de dons entre o céu e a terra; a luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação. E esta troca de presentes já começa a acontecer e esta luz até mesmo o cego pode ver. A centralidade do sentido de nossa vida, nossa salvação se encarnou!
Esta notícia provoca escândalos, pois o foco de nossa atenção, insistimos, é o Deus encarnado. Ele se fez criança com todas as necessidades humanas: carinho, amamentação; mais tarde, educação e, depois, emprego etc. A Palavra de Deus dirigida à humanidade é, de tão encarnada, até mesmo crucificada por aqueles que não a quiseram.
Encontramos no Natal do Senhor o próprio Deus com rosto humano, a própria palavra de vida vivenciada! Agora, a ternura de uma criança se opõe divinamente à arrogância do mercado; ao indiferentismo e individualismo. O Messias mostra com sua vida que a criança exige cuidados e dedicação, assim como todo ser humano ao longo da vida. Se hoje muitas crianças estão sendo jogadas no lixo, muitos catadores escutam seus gritos e as acolhem! Assim também, o grito pela vida plena é assumido e encarnado pelo Deus da vida, com toda a fragilidade humana e esperança por quem acredita que o menor faz a diferença. Que possamos não só escutar as vozes que gritam no lixo ou no deserto vivencial, mas, escutando-as, preparando o caminho do Emanuel, colocando-o como centro de nossas vidas.
Os dias de espera acabaram, pois não aguardamos qualquer um que aparecer, nem mesmo aquele que não veio ou que sabíamos que não viria. Não mais esperamos pela felicidade, sem lutar por ela ou pela vida, sem acolhê-la. Esperamos e experimentamos momentos de vida, de morte, mas também de ressurreição, pois acreditamos seguir o caminho Daquele que um dia se encarnou, ligando definitivamente a humanidade a Deus.
Jeremias Nicanor Alves / Seminarista da Diocese de Guaxupé – 1º ano de teologia.
Jornal Comunhão Edição Dezembro 2011-Diocese de Guaxupé