Esforço da caridade
Em razão de sua estreita relação com os cristãos da comunidade de Tessalônica, escreve-lhes São Paulo: “Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Ts 1,3) Paulo constata a prática das virtudes teologais por parte dos tessalonicenses. “É, pois, significativo que ao falar, pela primeira vez, da caridade (ágape: I Tes.1,3) São Paulo a apresente, ao lado da esperança e da fé, e a defina como um trabalho pesado, algo de ‘penoso’ (kopos). É interessante como caracteriza cada uma das virtudes teologais: a actividade (sic) (‘ergon’ = obra, trabalho) da fé. A firmeza (‘hipomonê’ = perseverança e paciência, persistência) da esperança e o ‘esforço’ (‘kopos’ = esforço, pena) da caridade. A caridade supõe um sempre grande esforço.”
A palavra do apóstolo Paulo continua sendo lida pela Igreja na mesma perspectiva. Em sua condição de cidadãos da terra – “cuidai das coisas do alto, não do que é da terra” (Cl 3,1) -, em busca da pátria definitiva, os cristãos, com sua vocação de “cidadãos do céu” (Ef 3,20), edificam e testemunham a vida cristã, sustentados por essas virtudes. Em particular, a virtude da caridade é conquistada e praticada com o esforço, o cuidado e a atenção dos cristãos. Portanto, a virtude da caridade é exercitada, intencional e efetivamente, como expressão do amor a Deus e ao próximo; com efeito, por sua origem, a caridade encontra em Deus sua fonte geradora, como ensina o evangelista São João: “Deus é amor”. (1Jo 4,16) Por conseguinte, ela tem uma natureza teologal: “Chamamos teologais às virtudes da fé, esperança e caridade. Teologal vem do grego e significa, duma forma muito simples, que só posso viver essa experiência aprendendo-a em Deus, recebendo-a de Deus. E, recebo-a de Deus porque Deus me torna capaz dela. Recebo-a de Deus porque Deus a partilha comigo.”
Em sua Encíclica Deus Caritas est, o Papa Bento XVI ensina qual é a exata dimensão da caridade: “No seu hino à caridade (cf. 1 Cor 13), são Paulo ensina-nos que a caridade é sempre algo mais do que mera atividade: ‘Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas e entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita’ (v. 3). Esse hino deve ser a carta magna de todo serviço eclesial; (…) A ação prática resulta insuficiente se não for palpável nela o amor pelo homem, um amor que se nutre do encontro com Cristo. A íntima participação pessoal nas necessidades e no sofrimento do outro torna-se assim um dar-se-lhe a mim mesmo: para que o dom não humilhe o outro, devo não apenas dar-lhe qualquer coisa minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar presente no dom como pessoa”.
Muitas pessoas, individual e coletivamente, cultivam práticas de um reconhecido valor humano e de um indiscutível alcance sócio-político, mediante gestos de assistencialismo humanitário, de solidariedade ocasional e de filantropia organizada; além de um grande valor social, essas ações, sem dúvida, têm um toque de Deus. De fato, em todas as civilizações e culturas, ao longo dos tempos, tem se revelado essa forma de serviço e promoção humana, nelas se encontrando, com certeza, as “sementes do Verbo” de que trata o Concílio Vaticano II. Uma dessas formas de serviço e promoção, muito presente na sociedade, é o trabalho voluntário que semeia essas “sementes”, de uma maneira edificante, no mundo globalizado dos necessitados de pão, água, justiça, saúde, paz, solidariedade e fraternidade.
A caridade, fruto do esforço consciente dos cristãos, coloca as pessoas que a exercitam nos caminhos de Deus e do próximo.
14/02/2011 Tags: caridade, Dom Genival Saraiva Categoria: Notícias Seja o primeiro a comentar
Em razão de sua estreita relação com os cristãos da comunidade de Tessalônica, escreve-lhes São Paulo: “Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Ts 1,3) Paulo constata a prática das virtudes teologais por parte dos tessalonicenses. “É, pois, significativo que ao falar, pela primeira vez, da caridade (ágape: I Tes.1,3) São Paulo a apresente, ao lado da esperança e da fé, e a defina como um trabalho pesado, algo de ‘penoso’ (kopos). É interessante como caracteriza cada uma das virtudes teologais: a actividade (sic) (‘ergon’ = obra, trabalho) da fé. A firmeza (‘hipomonê’ = perseverança e paciência, persistência) da esperança e o ‘esforço’ (‘kopos’ = esforço, pena) da caridade. A caridade supõe um sempre grande esforço.”
A palavra do apóstolo Paulo continua sendo lida pela Igreja na mesma perspectiva. Em sua condição de cidadãos da terra – “cuidai das coisas do alto, não do que é da terra” (Cl 3,1) -, em busca da pátria definitiva, os cristãos, com sua vocação de “cidadãos do céu” (Ef 3,20), edificam e testemunham a vida cristã, sustentados por essas virtudes. Em particular, a virtude da caridade é conquistada e praticada com o esforço, o cuidado e a atenção dos cristãos. Portanto, a virtude da caridade é exercitada, intencional e efetivamente, como expressão do amor a Deus e ao próximo; com efeito, por sua origem, a caridade encontra em Deus sua fonte geradora, como ensina o evangelista São João: “Deus é amor”. (1Jo 4,16) Por conseguinte, ela tem uma natureza teologal: “Chamamos teologais às virtudes da fé, esperança e caridade. Teologal vem do grego e significa, duma forma muito simples, que só posso viver essa experiência aprendendo-a em Deus, recebendo-a de Deus. E, recebo-a de Deus porque Deus me torna capaz dela. Recebo-a de Deus porque Deus a partilha comigo.”
Em sua Encíclica Deus Caritas est, o Papa Bento XVI ensina qual é a exata dimensão da caridade: “No seu hino à caridade (cf. 1 Cor 13), são Paulo ensina-nos que a caridade é sempre algo mais do que mera atividade: ‘Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas e entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita’ (v. 3). Esse hino deve ser a carta magna de todo serviço eclesial; (…) A ação prática resulta insuficiente se não for palpável nela o amor pelo homem, um amor que se nutre do encontro com Cristo. A íntima participação pessoal nas necessidades e no sofrimento do outro torna-se assim um dar-se-lhe a mim mesmo: para que o dom não humilhe o outro, devo não apenas dar-lhe qualquer coisa minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar presente no dom como pessoa”.
Muitas pessoas, individual e coletivamente, cultivam práticas de um reconhecido valor humano e de um indiscutível alcance sócio-político, mediante gestos de assistencialismo humanitário, de solidariedade ocasional e de filantropia organizada; além de um grande valor social, essas ações, sem dúvida, têm um toque de Deus. De fato, em todas as civilizações e culturas, ao longo dos tempos, tem se revelado essa forma de serviço e promoção humana, nelas se encontrando, com certeza, as “sementes do Verbo” de que trata o Concílio Vaticano II. Uma dessas formas de serviço e promoção, muito presente na sociedade, é o trabalho voluntário que semeia essas “sementes”, de uma maneira edificante, no mundo globalizado dos necessitados de pão, água, justiça, saúde, paz, solidariedade e fraternidade.
A caridade, fruto do esforço consciente dos cristãos, coloca as pessoas que a exercitam nos caminhos de Deus e do próximo.
Fonte: CNBB