Entrevista com Padre Graciano
Padre Graciano concede entrevista ao Jornal Um Só Coração e ao portal: sousagradosoufeliz.com, para explicar sobre as finanças da Paróquia. Embora todos os meses sejam expostas as receitas e despesas com a maior transparência, o leitor tem percebido que o saldo positivo da economia paroquial tem aumentado, daí surgindo a dúvida: “O que se fazer com esse dinheiro?” A seguir a entrevista.
1. Padre, essa melhora das finanças tem a ver com a conscientização e maturidade dos paroquianos em relação ao dízimo?
Primeiramente, no Sagrado assumimos uma nova definição usando a palavra PARTILHA e não mais dizimo. Em segundo lugar, não houve uma melhora da contribuição da paróquia, mas teve uma contribuição constante. O valor que acumulamos, próximo de 85 mil reais, é devido ao fato que faz um certo tempo que evitamos gastos importantes e nos limitamos à manutenção da nossa estrutura. Neste valor ainda está incluído uma parte dos 30% que deve ser repassada às obras sociais e de caridade da paróquia.
Normalmente o valor da Partilha e das coletas das missas cobre apenas os gastos do mês. O dinheiro acumulado vem da entrada das festas, como São Benedito, Festa do Sagrado, Festa de São José.
2. Esse saldo positivo em caixa não poderia deixar os nossos paroquianos colaboradores um pouco “preguiçosos”?
Poderia sim fazer pensar que a paróquia não precisa, mas isso não aconteceu, graças a Deus e à fidelidade dos nossos colaboradores da Partilha. De fato, agora estamos prestes a dar alguns passos importantes no nosso crescimento e precisamos deste valor que está no saldo e muito mais!
3. Em nível paroquial existe alguma obra almejada, nesse caso, qual o próximo desafio?
Tem sim, bastante. Em primeiro lugar, estamos planejando terminar o salão paroquial e a parte anti-incendio de toda a estrutura. Precisamos pavimentar o salão, colocar o forro, ampliar a cozinha, colocar as portas de acordo com as normas da lei e, enfim, colocar a iluminação definitiva. Nosso pensamento é que a estrutura possa ser usada para jantares, bailes, bingos e também que tenha recursos multimídia para ser usada para cursos, seminários e encontros. Na parte da manhã, ele poderia ser alugado para palestras e encontros empresariais, criando assim uma receita para a paróquia.
4. Como será o salão paroquial? Terá um teatro?
Não poderá ser um teatro, mas poderá receber peças teatrais e eventos artísticos para um público de 250 pessoas.
5. Recentemente o senhor falou sobre a intenção da aquisição da Quadra de Esportes do Lar Criança Feliz. Parte desse dinheiro poderá ser utilizada para isso?
Infelizmente acho que o dinheiro em saldo deverá ser usado na paróquia para as obras do salão. Como já disse, seu acabamento deverá dar um gasto próximo ou superior a 120 mil reais. Neste sábado vou me reunir com uma turma de pedreiros, nossos paroquianos e, graças a eles, poderemos evitar gastos com mão de obra, mas o material que precisa é muito. Quanto à quadra de esportes, a mesma que usamos na Festa de São José, concordamos com a compra do Lar Criança Feliz. Ao lado da quadra existe também uma área de 400 metros quadrados que poderá ser preciosa por completar a estrutura com uma cozinha e outras salas para cursos e encontros. O valor que pagaremos é de 250 mil reais, segundo um parcelamento que ainda não combinamos em detalhes. Mas existe uma ótima relação de estima e amizade que nos deixa tranquilos quanto a isso. A Aphas, braço associativo e social da Paróquia, se encarregou de conseguir este valor com uma campanha organizada pelos Associados.
6. O que os paroquianos podem e devem pensar em relação às nossas finanças?
Devem pensar que é um tesouro de fraternidade. Posso afirmar que zelo por ele com nossos colaboradores, para que não seja tirado dele nem um centavo. Nossa contabilidade é simplesmente “perfeita”. Em qualquer momento podemos comprovar até a compra de uma caixinha de fósforos feita quatro anos atrás, ou cinco, ou seis… Este tesouro é, na minha visão, um investimento no Evangelho, como uma força para fazer o bem para todos e construir uma sociedade mais justa. “A fé sem obras é morta”, diz o apóstolo Tiago em sua carta. A nossa partilha mostra que temos uma fé viva e que queremos fazer a nossa parte para dar a todos, inclusive aos menos favorecidos, uma oportunidade de crescer com dignidade.
7. É verdade que a Aphas (Associação de Promoção Humana e Ação Social) recebe 30% do valor arrecadado da partilha para desenvolver suas atividades?
A pergunta não é exata. 30% é o valor destinado a toda ação social da paróquia. Isto inclui valores que podemos destinar também a outro tipo de ajuda a pessoas em dificuldades. Por exemplo, este ano enviamos mais de 2.300 reais para Padre Francisco Albertin, na missão de Paragominas, no Pará. Enviamos também coletas para Diocese, para o Seminário e as Missões em geral.
Mas, com certeza a parte principal destes 30% da Partilha é destinada à Aphas, que gerencia nossos projetos sociais. Isso porque acreditamos que num mundo complexo como o atual, a verdadeira caridade se faz gerando profissionalidade e renda, criando educação, cultura, esporte, saúde e outras maneiras que permitem o crescimento integral da pessoa. Não é esmola que resolve o problema de uma criança pobre e da sua família, mas um apoio constante para que existam oportunidades para as pessoas poderem cuidar de si, sem depender da ajuda de ninguém. Por isso não somos assistencialistas, mesmo acreditando que em momentos de urgência é necessário “assistir quem precisa”.
8.Quais projetos são mantidos pela Aphas?
No momento estamos fazendo um grande esforço para o projeto “Escola de Vida e Futebol” que, por meio do esporte, quer educar e proteger de muitos perigos mais de 120 crianças. A parte técnica e de organização é feita com voluntários. Graças a uma verba da Alcoa Foundation estamos construindo uma estrutura polivalente numa área que nos foi cedida pela Prefeitura de Poços. A obra prevê vestiários, cozinha, refeitório, sala de palestra e cursos, sala do dentista, do médico e outros ambientes. O valor da obra é de 210.000 reais e recebemos 170 mil da Alcoa. O resto sairá da mesma Aphas e seus associados e das parcerias que ainda procuramos. A Empresa que assumiu a Obra, por exemplo, está doando a sua parte de administração da obra.
Temos outros projetos, pelos quais temos voluntários, como a Escola de Música para crianças e de Informática para adultos, que tornaram necessário o aluguel de uma casa, pago pela Aphas. Nesta mesma casa tem a sede da Diretoria e lá funciona o projeto “De mãos dadas”, que reúne senhoras para trabalhos artesanais. No bairro São José, temos um Projeto ambiental-educativo com mais de 50 crianças que, por enquanto, se reúnem numa garagem de uma voluntária: projeto que nos deu enorme satisfação. A paróquia tem um projeto que se chama OCA (Oração, Confiança e Amor) para se aproximar dos mendigos e ver como atuar nesta problemática. Todas as quintas-feiras à noite a OCA leva comida para essas pessoas. Parece simples, mas apesar de tantos voluntários, temos uma grande despesa. Previmos que neste ano de 2011 teremos gasto, até dezembro, algo como 250 mil reais.
9. O senhor mantém a ideia de que o dinheiro da paróquia não é para construir uma casa paroquial chique e sim ser partilhado segundo a necessidade da comunidade paroquial?
Acho que um padre pode viver numa casa de aluguel, sem ter que usar um grande capital para uma Casa Paroquial. Acho melhor investir em estruturas que permaneçam em beneficio de todos. Até hoje não tive a coragem de pensar em construir uma casa paroquial. O sistema de alugar uma casa pesou na arrecadação mensal média nestes onze anos de paróquia pouco mais de 4%. E ainda não temos gastos com manutenção e consertos. Só com o dinheiro que trouxe da Itália, doações de muitos amigos, cobri mais de três vezes o valor total do aluguel nestes doze anos!
10. Além do conselho paroquial, a paróquia tem um Conselho Administrativo ou o padre decide onde gastar o dinheiro?
Primeiramente sim, temos o Caep (Conselho Administrativo Econômico Paroquial), formado por cinco pessoas: Eu, Ricvera Ferreira, nossa secretária responsável da contabilidade paroquial, João Paulo Figueiredo, Rogério Carrilo e Hélio Moreira e mais uma mulher que precisou deixar o Caep porque se mudou. Quanto a decidir onde gastar o dinheiro, não tem como “onde gastar”. Há muitas coisas do dia a dia que precisamos comprar, muito material para a Igreja, livros de formação, manutenção, consertos, salários dos funcionários, e tudo que vocês veem no nosso balancete mensal. Despesas mais valiosas são avaliadas. Mas o Caep, na suas reuniões, olha para situação financeira como um todo. Agora nos reuniremos para planejar os gastos com o Salão Paroquial, orçamento e a maneira para obter os recursos. Nesta área temos uma equipe importante e valiosa que é a Equipe de Eventos, que organiza nossas festas e trabalha com muito zelo e dedicação para que tenhamos bons resultados em termos de vida comunitária e em termos financeiros.
11.Que mensagem o senhor quer deixar para os nossos leitores, em especial, para as pessoas que contribuem com a paróquia?
Quero dizer o seguinte: acreditem que cada real partilhado para a causa do Evangelho e, portanto, para manutenção da Paróquia e do Trabalho Social e de caridade, jamais será algo perdido. Tenha orgulho de fazer parte de uma comunidade que cada dia que passa está crescendo na consciência de ser uma obra de Deus. Um Deus que nos chama a socorrer o Cristo presente nas pessoas menos favorecidas. Acreditem que fazendo juntos o bem a aprendendo a doar estamos curando nosso coração, que na cultura que vivemos é tentado em se fechar no próprio individualismo cego e sem amor, para que nos sintamos pessoas mais fraternas e livres. Acreditem que o amor fraterno e, portanto, a Partilha, são o caminho para uma nova economia, e para preparar um futuro mais sereno para nossos filhos e netos. O mundo egoísta do mercado sem ética e do lucro a qualquer custo é um mundo sem saída, é o mundo de tantas monstruosidades como as guerras. Embora pequena, a nossa paróquia deseja ser uma semente da “Civilização do Amor”. Uma paróquia como a nossa se reúne na Santa Eucaristia para aprender a amar. Vida eucarística é vida solidária com os pobres e necessitados. Não posso esquecer a corajosa expressão de Madre Teresa de Calcutá que, com a autoridade do seu impressionante testemunho de dedicação aos mais abandonados da sociedade, dizia: “A hora santa diante da Eucaristia deve nos conduzir até a hora santa diante dos pobres. Nossa Eucaristia é incompleta se não levarmos ao serviço dos pobres por amor.