“Efatá” -Abrir o coração- Homilia do 23º Domingo do tempo comum- Pe Graciano
Jesus está andando por terras pagãs, Tiro, Sidônia e a região da Decápole e, segundo os fariseus, estaria com perigo de se tornar impuro. Mas lembramos muito bem que não é tocar um pagão que torna o homem impuro, mas sim aquilo que nasce no seu coração.
Nesta terra não abençoada, segundo os judeus, é que acontece uma manifestação do amor o do poder de Deus, da misericórdia do Pai com os que sofrem. Este fato é verídico, aconteceu, tem muitos detalhes que Marcos e sua comunidade lembrava, mas na hora de entrar no evangelho, de ser uma das tantas curas que Jesus realizou que foi escolhida para fazer parte do texto, este fato se torna uma catequese, um ensinamento que marca profundamente as comunidades dos discípulos.
A pessoa que foi levada até Jesus tem dois problemas: não escuta e fala com muita dificuldade, gagueja. Há uma grande tradição dos profetas como Isaías e Ezequiel, que lamentaram muitas vezes que o povo tinha ouvidos, mas não ouvia a Palavra do Senhor, eram surdos aos apelos de Deus pois não queria ouvir. Este homem que foi conduzido até Jesus queria ser curado, queria ouvir. Eis que ele representa o povo que quer ouvir a voz de Deus, quer ouvir sua Palavra, mas não consegue.
É uma situação que vivemos ainda hoje. Com certeza muitas pessoas, envolvidas no barulho de uma vida superficial, na confusão de ideias e mensagens que bombardeiam a sociedade, na correria de uma vida que se tornou muito mais fazer do que pensar, se tornaram incapazes de ouvir a voz de Deus em seu coração. Quem não ouve, tem dificuldade a falar. Quem não ouve mais a voz de Deus dentro de si, não sabe nem ouvir os outros e por isso sua palavra é pobre, sem conteúdo, nada tem a nos dizer. Um bom conselho ou uma palavra de sabedoria e de conforto, nasce sempre da escuta.
Voltamos a Jesus e o homem surdo e gago. Jesus aceita o pedido da comunidade que levou o homem e se encontra com ele. Acontecem dois gestos: o dedo toca os ouvidos e com a saliva molha a língua. Os dois gestos são da tradição, pois o dedo lembra o dedo de Deus que operava prodígios, e a saliva se acreditava pudesse conter o sopro, a alma da pessoa. Mas a cura acontece com uma palavra: Efatá! Abre-te!
Jesus mostra claramente que a surdez é fruto de um coração fechado. Não ouvimos a voz de Deus pois não abrimos a ele o coração. Jesus indica a experiência da fé como a de abertura do próprio ser. Não há menor dúvida que muitos sofrimentos psicológicos e de relação entre as pessoas e principalmente na família é devida ao fechamento. Alias, cada vez mais estamos nos tornando pessoas fechadas, temos vergonha de nos manifestar, de partilhar o que sentimos. Os casais se abrem muito pouco entre eles. Da mesma maneira nos fechamos a Deus, não somos capazes de uma oração sincera, espontânea que permite a Deus entrar e curar nosso coração. Efatá: abre-te. Precisamos nos abrir mais a Deus, ao Amor, a esperança. Nos abrir a sorrisos, abraços e necessidades dos outros.
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas- MG | Diocese de Guaxupé