Domingo de Ramos – Humanizar nossa Jerusalém através do diálogo amoroso
DOMINGO DE RAMOS
Humanizar nossa Jerusalém através do diálogo amoroso
Depois de um longo percurso quaresmal chegamos às portas das celebrações centrais da nossa vida cristã: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
Nas celebrações da Semana Santa, muitas vezes corremos o risco de nos deter no secundário e esquecer o essencial. E o mais essencial é que as diversas celebrações (procissões, via sacra, liturgias…) nos aproximem e nos façam crescer na identificação com o protagonista principal: Jesus de Nazaré.
Por isso, precisamos voltar constantemente ao Evangelho para compreender o mais essencial sobre Jesus. Recuperemos, como diz o papa Francisco, o frescor original do Evangelho.
E a primeira coisa que o Evangelho nos diz é que Jesus foi um buscador de alternativas.
Ele não foi conivente e nem compactuou com a estrutura social-política-religiosa de seu tempo, que era profundamente desumanizadora. Sonhou novas possibilidades de vida e novas relações entre as pessoas. Por isso, ao anunciar o Reino, transgrediu a situação vigente e, a partir das periferias, foi despertando uma alentadora esperança nos corações dos mais pobres e excluídos, vítimas de um mundo fechado.
– Comece sua oração, mobilizando todo o seu ser (corpo-mente-afetividade) para o encontro com Jesus que vive a fidelidade ao Reino até sua entrega radical.
– Faça uso dos preâmbulos: oração preparatória, a composição vendo o lugar, petição da graça.
– Antes de fazer uma contemplação, aqueça o seu coração com as “considerações” abaixo:
– A vida de Jesus foi uma grande subida a Jerusalém; e nesta subida, segundo os relatos evangélicos, Ele desconcertou a todos. Evidentemente, desconcertou as pessoas mais religiosas e observantes da religião judaica: fariseus, escribas, sacerdotes, anciãos… Não só Jesus foi a pessoa mais desconcertan–te de toda a história, mas nele aconteceu algo também desconcertante. Ele desencadeou na história da humanidade um “modo de viver” que quebrou toda estrutura petrificada, sobretudo religiosa, constituindo um “movimento” ousado que colocava o ser humano no centro.
Este movimento, desencadeado na Galiléia, chega agora às portas da “cidade santa”, Jerusalém.
Aquele homem que movia multidões por todo o país, por sua pregação e milagres, não é um revolucionário violento. E, no entanto, nem por isso deixou de ser provocativo, transgressor e perigoso. E tudo em nome da vida.
– Jesus participava do sonho de todo o povo de Israel que via em Jerusalém a cidade da promessa de paz e plenitude futura, lugar onde deviam vir em procissão todos os povos da terra. A tradição profética havia anunciado uma “subida” dos povos, que viriam a Jerusalém para iniciar um caminho de comunhão, de justiça e adorar a Deus no Templo, que estaria aberto para todos. Toda a cidade se converteria num grande Templo, lugar onde se cumpriria a esperança dos povos.
Jesus, presença de vida nos povoados, vilas e campos, quis também levar vida a uma cidade que carregava forças de morte em seu interior. Ele quis pôr o coração de Deus no coração da grande cidade; desejava re-criar, no coração da capital, o ícone da nova Jerusalém, a cidade cheia de humanidade e comunhão, o lugar da justiça e fraternidade…
– A Campanha da Fraternidade deste ano (diálogo: compromisso de amor) constata esta realidade: não podemos deixar que a atual situação pandêmica acentue mais ainda os diferentes distancia-mentos que estavam escondidos, mas que agora vieram à tona com mais força. As nossas cidades estão se revelando, cada vez com mais intensidade, como espaço de grandes rupturas e violências, lugar de exclusão e isolamento, visibilização de uma desumanização trágica.
Também os muros estão voltando à moda. Há em todo ser humano uma tendência a cercar-se de muros, a encastelar-se, a criar uma rede de proteção. Os muros, no interior das cidades, são muito concretos: muros sociais, religiosos, políticos, culturais… Com tantos muros é impossível construir pontes de diálogo e reconciliação.
– A vivência do seguimento de Jesus Cristo implica romper a bolha que asfixia a vida e derrubar os muros que cercam o coração, atrofiando a própria existência.
Somos chamados a uma pertença pessoal cada vez mais ampla, até sentir-nos parte da “Jerusalém”
que sonhamos. Precisamos de fronteiras, sim, mas que sejam fronteiras abertas ao diálogo, flexíveis, fluidas, acolhedoras do diferente…
Esta capacidade humana de dialogar com o outro diferente, quebrar distâncias e deixar que a própria vida seja questionada pelo outro é a qualidade maior daqueles que alargam suas fronteiras e não se deixam dominar pelo medo e pelo preconceito.
– O diálogo com todos é verdadeiramente o único modo para superar os desafios que temos diante da diversidade de ideias, visões, modos de ser e viver….
As pessoas e os povos de todos os tempos e lugares trazem, como que enraizados nas fendas mais profundas de sua alma, sonhos de rara beleza. São desejos de construção de uma nova Jerusalém, a cidade humanizada, ou seja, espaço da acolhida, da convivência, do diálogo aberto, da fraternidade e dos encontros… Era certamente nessa direção que Jesus apontava, ao se dirigir a Jerusalém como a cidade das esperanças e possibilidades.
– Como seguidores(as) de Jesus, nossa vocação é a de construir pontes e ser presença reconciliadora em situações de fronteira, colocando nossas energias, nossa formação, nossa vida a serviço… para criar, alimentar e sustentar os laços humanos, relações sociais, estruturas sociais, políticas e econômicas que tornem possível o diálogo, a solidariedade e o encontro entre todos os seres humanos e aponte para uma nova cidade, fraterna e justa.
O gesto profético de Jesus de “entrar em Jerusalém” nos convida a contemplar nossas cidades e nos desafia ser presença evangélica, portadora de vida nos nossos grandes centros urbanos.
+ Leia atentamente o Evangelho indicado para este domingo; prepare-se para fazer uma contemplação – Mc 11,1-10
+ Com a imaginação recrie o cenário evangélico: a cidade de Jerusalém, o grande Templo, a diversidade de pessoas… Com a chegada de Jesus, montado em um burrinho e uma grande multidão, faça-se presente, procurando olhar as pessoas, escutar o que elas dizem, observar o que elas fazem…
+ Faça um colóquio com Jesus, expressando sua admiração pela atitude ousada e corajosa dele. Fale com Ele sobre sua presença na cidade onde mora: desejo de ser presença inspiradora, profética, de compromisso com a construção de relações humanizadoras…
+ Traga à “memória” o que é mais desumano na sua cidade: como você reage diante disso? passivo? suporta? denuncia? atua?…
+ Faça uma “leitura orante” deste tempo de oração e registre os principais sentimentos.