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Paróquia hoje:
Destaques, Voz do Pastor › 13/07/2016

Crise Ética

 

O Brasil vive uma das suas maiores crises políticas da história da democracia. Penso, como muitos, que sua crise seja principalmente ética. Uma crise ética não é apenas de uns, mas envolve todo o país. A corrupção estrutural assusta pelas proporções e o envolvimento de políticos, empresários e tantas outras pessoas que direta e indiretamente fazem parte deste processo.

O País precisa se repensar. Os brasileiros precisam repensar suas escolhas e sua postura perante o bem comum. Quando, por exemplo, alguém produz documentos falsos de suposto tratamento dentário, para poder descontar o valor no seu imposto de renda, pensa que foi um “experto”, mas esquece que o dinheiro furtado é dinheiro de todos.

Os atos de corrupção diária e de pequenos valores, praticados pelo povo que se diz “experto”, somam grandes valores e principalmente criam no País uma cultura da mentira e da desonestidade.

Muitos acusados nas operações da Policia Federal, nas suas primeiras entrevistas após ter sido protagonistas das manchetes da Operação Lava-Jato, se declaram inocentes e vítimas de absurdas mentiras, e logo depois de poucas semanas estão fazendo acordo de “delação premiada”.

O príncipe Hamlet, quando descobriu a corrupção da família real, dizia: “tem algo muito podre no Reino da Dinamarca!”. Verdade: tem algo muito podre em tudo isso. Tem algo muito errado quando os interesses individuais e a “Lei de Gerson” (= levar vantagem) prevalecem sobre o bem comum. Tem algo muito podre quando o “dinheiro” vale mais que a verdade e a dignidade das pessoas.

Jesus encontrou um país muito corrupto. Muita da corrupção que ele encontrou era feita pela autoridade religiosa. Não se roubava apenas, se roubava em nome de Deus. Lembramos quando Jesus entrou no templo e, vendo que tudo era comércio, começou a derrubar tudo e a expulsar os comerciantes e cambistas.

Jesus dizia que não tem como servir a dois senhores. Ou servimos a Deus ou servimos ao dinheiro. Quem se faz servo do dinheiro não pode ser discípulo do Senhor Jesus. São Tiago usa palavras duríssimas: “Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias! Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos.” (Carta de São Tiago 5,3-4).

Nós cristãos somos chamados a lutar por um Brasil mais verdadeiro e honesto. Precisamos fazer isso, antes de tudo, com a nossa vida, o nosso exemplo, a nossa honestidade pessoal. Lembro da história daquele homem de Jaru, perto de Porto Velho que, achando 20 mil de reais no chão não ficou com ele, mesmo que ninguém tivesse visto. Devolveu. Continuou como pobre com salário mínimo deste Brasil.

Se tivesse ficado com o dinheiro, teria sido mais pobre ainda e teria vendido o que de mais precioso existe: a sua dignidade e honestidade. (Leia o resumo da notícia no quadro à parte). Sei que muitos não pensam assim. Sei que muitos acham que ser honesto é coisa de bobo.

Jesus também sabia, mas anunciou o evangelho do amor e da justiça, onde a pessoa humana e a vida valem mais de que tudo. Por isso dizia: “para quem te pedir uma túnica, dá duas para ele”.

A corrupção grande ou pequena que seja gera sempre roubo e acúmulo de bens. A justiça que Jesus nos pede gera a partilha e a divisão dos bens, como aqueles dois peixes e cinco pães que saciaram 5 mil pessoas. Cabe a nós acolher a proposta de Jesus e testemunhar isso às crianças, aos jovens, nas faculdades, criar uma nova cultura que supere a idolatria do dinheiro. Se o cristão e todos os homens de boa vontade não aceitam este desafio, o Brasil vai continuar o país dos expertos que devoram tudo que passa pela frente e deixam ao povo apenas migalhas.

 

QUADRO SEPARADO

Sem R$ 5 para comprar um analgésico para o filho de 9 anos, Carlos Cesar Garcia de Souza, de 50 anos, foi pedir ajuda a um cunhado. Na volta para casa, Carlos encontrou um envelope com R$ 20 mil no chão. Carlos, que é pensionista do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e recebe mensalmente um salário mínimo, procurou o dono do envelope e o devolveu. O caso aconteceu na terça-feira (9) em Jaru, a 250 quilômetros de Porto Velho.

…. O pensionista diz que o dinheiro ajudaria muito, mas está feliz pelo exemplo que está dando aos filhos e também pela tranquilidade de ter feito a coisa certa. “Eu posso deitar minha cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. A minha recompensa vem de Deus e do reconhecimento dos amigos”, conclui.

Carlos conta que há três anos sofreu um acidente de trabalho, teve um problema na coluna e não pôde mais trabalhar. O pensionista, que mora em Jaru há cerca de 30 anos, reside numa casa cedida pelo irmão e sustenta os três filhos com benefício do INSS, mais o resultado das diárias que a esposa realiza durante a semana.

(Fonte: Correio do Estado / MS – 06 de julho 2016)

 

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