Construir a paz- Homilia do 2º domingo da Quaresma
Antes de ler a homilia desse domingo, leia aqui o evangelho
Este segundo domingo da quaresma continuamos a nossa caminhada. Domingo passado falamos do “deserto”: a necessidade de conseguir momentos de silêncio e interioridade para fecundar a nossa vida a partir da oração e reflexão. Continuamos a nossa caminhada com o episodio do monte Tabor, a transfiguração. O centro deste evangelho é a frase que se ouviu: “Este é o meu filho amado. Escutai o que ele diz!”. Hoje Jesus continua nos falando por meio da Igreja e de nossos pastores. Por isso acho importante que acolhamos no nosso coração o convite a viver a campanha da fraternidade, que é uma campanha de reflexão para que encontrarmos, na fraternidade, caminhos para superar a violência.
Podemos dizer que o Brasil está cada vez mais desfigurado pela violência. A violência direta que é a mais aparente, onde o Brasil está no topo dos países mais violentos com quase 60 mil assassinatos. Nos últimos anos duplicaram os estupros, roubos, assaltos e sequestros. A cada minuto é roubado um carro. Na ultima semana de guerra cruenta na Síria morreram 500 pessoas. No Brasil são assassinadas 1200 pessoas por semana. Todos se sentem inseguros. Quem tem possibilidade se protege com o que tem de melhor na tecnologia de segurança, se fechando em suas residências e condomínios, mas do mesmo jeito que são criadas barreiras para os criminosos, elas existem também para os amigos: resultado as pessoas se isolam mais ainda.
A CF 2018 nos convida a pensar em superação da violência a partir das palavras de Jesus, da vida das comunidades, isto é a partir do coração humano. Convida-nos a pensar da maneira de Deus. Tem gente que pensa que violência se supera com a violência: Trump sugeriu estes dias de armar os professores nas escolas americanas. O candidato a presidência Bolsonaro é a favor do armamento da população. A violência vem tomando conta da nossa cultura também: as pessoas exasperadas por tanta violência comemoram com palmas a morte de criminosos em ação policial ou em confronto entre facções inimigas do trafico de drogas. A visão de segurança publica que imagina uma guerra entre a população e o crime, quer sugerir que a vida será uma guerra permanente e que a paz não vai existir nunca mais.
Países que em lugar de 60 mil homicídios por ano, tem um numero abaixo de 100, provam que com o desenvolvimento social é possível viver em paz, passear serenamente pela cidade, sem medo de ser assaltados.
Por isso a CF 2018 nos chama a ficar em escuta da Palavra de Jesus que nos ensina a viver na paz, nos ensina a construir a paz, a partir de corações não violentos. Sabemos que o caminho será longo, mas o desfigurado Brasil precisa ser transfigurado. Só será transfigurado se criaremos uma cultura de paz. O Brasil é conhecido por ser um povo acolhedor, festeiro e feliz. O Brasil não pode aceitar tanta violência. E se é verdade que há um mundo do crime que deve ser combatido pelas autoridades de segurança publica, é verdade também que muitas mortes são fruto de brigas de transito, brigas de vizinhos, brigas em botecos e bares. Muita violência se consuma dentro de casa com crianças, mulheres, idosos. Cabe a todos nós então buscar caminhos da paz com atitudes de dialogo, de acolhida do diferente, de respeito do outro, de uma fala que não agride e não ofende. Lembrando aqui que Jesus quando questiona os mandamentos diz: “Foi dito não matarás, mas eu vos digo que quem chama seu irmão de tolo já será réu em juízo”.
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas- MG
Diocese de Guaxupé