Comunidades autenticamente missionárias
“Finalmente, Ele se manifestou aos onze, quando estavam à mesa […] E disse-lhes: ‘IDE por todo o Mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura! ’ […] E eles SAÍRAM a pregar por toda a parte […]. ” (Mc 16, 14-20).
Quando olhamos e refletimos esse texto do Evangelho de Marcos, nos deparamos com o envio missionário dito por Jesus aos seus discípulos. Por vezes, esquecemos que esse também é um mandado todo especial que se dirige a nós cristãos católicos. É uma ordem na qual está inserida todo o amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, por cada um de nós, o qual não se deve manter somente sobre nossa posse, mas é necessário que mostremos e anunciemos esse amor a nossos irmãos e irmãs.
Antes de adentrarmos a reflexão sobre a Comunidade Missionária é necessário refletir sobre a natureza missionária da Igreja, como nos apresenta a declaração conciliar Ad Gentes (nº2), ”A Igreja peregrina é por sua natureza missionária, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai”.
“A Igreja tem por sua natureza, essência, a missão de Jesus Cristo, portanto, tem em si, em sua essência a Missão. Essa essência é a própria essência de Deus, porque ‘este desígnio brota do <<amor fontal>>, isto é, da caridade de Deus Pai’ (AG 2). Em outras palavras, a missão vem de Deus porque Deus é amor, um amor que não se contém, mas que transborda, que se comunica, que sai de si já com a criação do mundo. ” (FERREIRA, 2012).
“Muitas vezes na Igreja há tensão entre comunidades e missão. A comunidade é tentada a fechar-se em si mesma, renunciando à missão, à abertura aos outros ou reduzindo a missão a segundo plano… O desafio consiste em se formar uma comunidade missionária onde a comunidade sustente a missão, e a missão dinamize permanentemente a comunidade” (CNBB, Doc. 40 nº 21).
Essa realidade apresentada no documento 40 da CNBB – “Igreja, comunhão e missão” – ainda se faz muito presente nas nossas realidades paroquiais e comunitárias. Se analisamos toda a caminhada missionária de nossa diocese, principalmente com a adoção do projeto das Santas Missões Populares(SMP), vamos nos deparar, ainda, com muitas situações em que a missão é tratada como uma pastoral ou movimento a mais na comunidade. Isso mostra um total desconhecimento da realidade diocesana e paroquial e, mais ainda, uma total falta de entendimento da essência da Igreja, como já afirmamos acima.
Pode-se questionar: como saberemos que nossas comunidades ainda não entenderam verdadeiramente a proposta da Igreja – a qual possui uma natureza missionária – se temos várias atividades em nossas comunidades? A resposta para esse questionamento se dá na análise pastoral de nossas comunidades, pois devemos analisar quais as nossas prioridades ou, simplesmente, analisar o que realmente valorizamos em nossas paróquias.
Para contribuir nesta análise podemos elencar três tentações das nossas comunidades: 1) Imobilismo: Consiste na vivência estática, repetitiva e conservadora de certas atividades. E como essa realidade se faz presente em nossas comunidades! De vez em quando há algo novo, mas trata-se de “pano novo em roupa velha! ” (Mc 2, 21); 2) Bairrismo: Uma comunidade que se fecha em si mesma, autossuficiente. Não se abre às realidades e dificuldades de outras comunidades ou paróquias; 3) Egocentrismo: Não há intercâmbio nem diálogo entre os seus membros. Ministros ordenados e leigos se consideram únicos, mais competentes e avançados que as outras pessoas.
Daí vem a questão: Como podemos vencer tais desafios? E a resposta também é clara, CONVERSÃO. Todo tempo da Igreja é propício para falarmos e, principalmente, vivermos a conversão em nossas vidas. Mudarmos a direção de nossas vidas e de nossas vivências pastorais-comunitárias.
Elencaremos quatro conversões necessárias para que nossas comunidades sejam decididamente missionárias. Devemos passar de:1) uma comunidade sedentária a uma comunidade missionária. A Igreja deve se colocar a todo instante em estado de missão, portanto, nossas comunidades devem viver em estado permanente de missão; 2) de uma comunidade de monólogo a uma comunidade de diálogo. Se as comunidades se fundamentam na comunhão, tudo deve ser comunitário. O Conselho de Pastoral Paroquial (CPP) e o Conselho Pastoral de Comunidade (CPC) se tornam indispensáveis a essa nova realidade eclesial; 3) de uma comunidade clerical a uma comunidade ministerial. Deve-se valorizar todos os ministérios, salvaguardando a identidade pessoal de cada membro eclesial; 4) de uma paróquia dominical a uma paróquia cotidiana. A paróquia missionária deve evangelizar de forma tal que Deus se torne o Senhor do cotidiano! Eis a importância dos sacerdotes e dos colaboradores-missionários visitarem constantemente os paroquianos, fundando e cultivando pequenas comunidades, suscitando grupos diversificados, interagindo com as paróquias vizinhas e dedicando uma grande atenção às Missões. Aí está o desafio nosso de cada dia, estruturarmos nossas comunidades às luzes da Palavra de Deus e da Missão de Jesus Cristo.
As nossas experiências podem ser descritas assim, com as palavras do documento Ad Gentes n.º 37: “a Igreja não pode crescer, se não se manifesta, para quem está longe, a mesma preocupação que tem para quem está perto”. Portanto, a Igreja local vive, cresce e se torna adulta na medida em que se torna verdadeiramente católica, isto é, se abre para o anúncio de Cristo e ao serviço às comunidades e ao mundo. Para crescermos mais em nossa caminhada, principalmente, nos trabalhos desenvolvidos nas Santas Missões Populares em nossa Diocese, podemos refletir sobre o que está atravancando, dentro das nossas comunidades, o desenvolvimento do espírito Missionário.
Reflitamos e mão à obra!
Por José Eduardo Silva, seminarista da Teologia
Fonte: Site – Diocese de Guaxupé