Cardeal Odilo Scherer fala sobre o Sínodo e a Nova Evangelização
Em sua intervenção no Sínodo dos Bispos, Sua Eminência reafirmou a importância dos Santos na vida da Igreja. Esse tema foi colocado durante o desenrolar do Sínodo: na abertura o Santo Padre proclamou dois novos Doutores da Igreja e depois proclamou sete novos Santos. Alguém poderia questionar se, olhando a situação da fé e da Igreja de hoje, se haveria sentido falar de Santos…
Cardeal Scherer – Deve-se entender, antes de tudo, cada intervenção no todo. Por isso falou-se sobre tantas coisas.Portanto, quis dar esta contribuição que seria interessante. No conjunto das propostas da tomada de consciência da nova evangelização deveria levar-se em consideração também a presença dos santos na vida da Igreja, isto é, olhando para a história da Igreja, a evangelização foi promovida por toda a Igreja, mas os grandes impulsos para a evangelização foram dados pelos santos.Começando pelos Santos Apóstolos, pelos Santos Padres da Igreja, pelos Santos mártires, que são as sementes dos novos cristãos. Depois, os Santos Doutores da Igreja que defenderam a fé. Os Santos Pastores, os missionários, os místicos, os santos fundadores que, para anunciar o Evangelho, para testemunhar o Evangelho com a própria vida, deixaram tantas obras. Quer sejam testemunhos escritos, quer sejam obras de caridade, fundações ou iniciativas missionárias que até agora tiveram um longo efeito missionário.Portanto, se queremos promover a nova evangelização, hoje, temos que olhar a nossa história e refletir sobre o que se fez no passado, como isto já foi feito, quem o fez nos melhores dos modos. Nós nos encontraremos diante dos Santos. Neste sentido não é simplesmente um chamado à devoção dos Santos, não é o chamado ao protagonismo dos Santos, na obra evangelizadora dos testemunhos dos Santos no passado, mas sua vida até agora apresentada ao fiel. Depois, na conversão, de encorajamento, a figura, a história e a vida dos Santos é importante para a Igreja também neste momento da nova evangelização.
Gaudium Press – Um exemplo vindo das terras brasileiras…
Cardeal Scherer – Eu venho de São Paulo, uma grande cidade que nasceu em torno de uma capelinha escondida na missão dos jesuítas da primeira hora. Entre os fundadores desta missão está o Padre José de Anchieta que é o Fundador da cidade e proclamado Beato da Igreja. A cidade pode ser uma cidade cosmopolita, multiétnica e que não queira saber de Deus, mas ela nunca pode esquecer que foi em torno da iniciativa de um Santo que ela nasceu. E ele é um testemunho para a cidade até agora. Cultivamos o testemunho de José de Anchieta como um testemunho vivo para a cidade. Esse seu testemunho fala ainda hoje para a cidade, por isso ele é um testemunho evangelizador.
Gaudium Press – No Sínodo falou-se das “novas formas de martírio” no contexto dos países secularizados, como na Europa. Este problema cresce também no Brasil hoje?
Cardeal Scherer – Sim, estas novas formas de martírio, perseguição, discriminação ou de marginalização dos crentes da vida pública existem. Esta em todos os lugares. E também entre nós há martírios cruéis. Há sacerdotes que foram mortos de várias maneiras porque eram comprometidos com a evangelização, com o testemunho da fé, no serviço aos fiéis. Portanto, as novas formas de martírio estão também entre nós.
Gaudium Press – Segundo o senhor, qual é a mais importante mensagem deste Sínodo?
Cardeal Scherer – O resultado mais importante da assembleia deste Sínodo é uma tomada de consciência de toda a Igreja da necessidade de uma nova evangelização. Uma tomada de consciência que já está acontecendo, não estamos para começar. Mas há muito para caminhar. Há esperança e o sinal para onde se deve ir.
Gaudium Press – Sua Eminência encontrou inspiração nos outros Padres sinodais para as iniciativas pastorais na sua diocese?
Cardeal Scherer – Sim, muitas inspirações que depois tentarei aproveitar, falando com o clero, com os religiosos, com os organismos da Igreja, eu vou tentar colocá-las em prática. Mas, certamente, uma das inspirações é um chamado muito forte a todas as pessoas, também aos organismos da Igreja, as expressões de vida eclesial, de envolver na nova evangelização cada um a seu modo. Cada um tem um dever a cumprir.
Gaudium Press – Um dos aspectos muito discutido no Sínodo foi a paróquia, “um gigante adormecido”. Como Sua Eminência vê as condições atuais da paróquia no Brasil?
Cardeal Scherer – É um pouco como nos outros lugares. Vê-se que existem paróquias que estão cansadas, estão um pouco sem vida, que se tornaram muito burocratizadas. Paróquias que são identificadas simpesmente como um lugar de serviço religioso ou de alguma função burocrática. Mesmo que isto faça parte da paróquia, é preciso considerar a paróquia como expressão da Igreja, da comunidade viva em determinado lugar. Por isso a Paróquia deve ser e dar a expressão da fé, da esperança e da caridade. Um lugar onde deve desenvolver-se os três fundamentais ministérios da Igreja: o ministério da Palavra, da santificação, portanto a oração e a liturgia, e o serviço da caridade. A paróquia deve redescobrir-se como organismo vivo, uma expressão viva da Igreja. Não simplesmente um lugar, uma estrutura, uma referência burocrática para certas necessidades que cada um poder ter para a vida religiosa, mas antes de tudo uma deve ser uma comunidade viva das pessoas batizadas em torno do pároco, bom pastor.
Gaudium Press – Uma forte expressão da caridade e solidariedade por parte dos Padres sinodais foi dada com relação à Delegação na Síria. A situação dos cristãos desta região também toca à sua diocese, pois muitos sírios emigram para São Paulo na esperança de encontrar trabalho e uma vida tranquila. Como a Igreja católica no Brasil apóia os cristãos no Oriente Médio?
Cardeal Scherer – Todos os anos temos a coleta na Sexta-feira Santa. É uma expressão muito concreta de ajuda aos irmãos cristãos do Oriente Médio, da terra das origens cristãs. Por outro lado, por exemplo em São Paulo, temos uma vivíssima comunidade dos imigrantes sírios e libaneses que são muito ligados às suas origens e que explicitamente ajudam seus irmãos da Síria e do Líbano. Portanto, de muitos modos temos relações de fraternidade e de solidariedade com a Igreja no Oriente Médio. (AA/JS)
Por Gaudium Press