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Notícias › 08/07/2016

Ano eleitoral desafia

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Situações muito complexas no ambiente sociopolítico emolduram este ano de eleições – com riscos de fracassos que poderão afetar ainda mais seriamente as dinâmicas da sociedade. O quadro de candidaturas não é promissor quando se toma conhecimento dos cenários que estão se configurando nos municípios todos, dos maiores aos menores. Quando não se investe em líderes lúcidos, capazes de priorizar o bem comum e de agir com a velocidade indispensável para solucionar graves problemas, paga-se alto preço. Por isso, é fundamental que todos os cidadãos se comprometam com o processo eleitoral, interessando-se pelo assunto, superando o consequente desânimo que se abate sobre o conjunto da sociedade, em razão das derrocadas e desarticulações ocorridas, especialmente, nestes últimos anos. “Virar as costas” para o processo eleitoral é um risco, pois favorece os “aventureiros”, as escolhas inadequadas. Desconsiderar a importância das eleições significa menosprezar a força que só o povo tem, de exigir dos políticos novas posturas.

A direção correta é a participação clarividente em discussões e reflexões sobre política. A dedicação a esse tema pode promover uma participação popular mais adequada, com a adoção de critérios que favoreçam as eleições destituídas de emocionalismos e, sobretudo, dos interesses partidários e cartoriais que têm marcado o modo de fazer política no Brasil. Nesse sentido, corrigir as dinâmicas que definem o universo da política é um modo eficaz de debelar a corrupção, freando interesses pequenos e grupais que prejudicam o bem comum, o equilíbrio social e econômico. Por isso mesmo, as igrejas, as escolas, a mídia, os segmentos culturais e artísticos, associações e grupos organizados da sociedade civil, de todo tipo, têm o dever de se mobilizar para que o ano eleitoral não seja marcado pela apatia dos cidadãos.

Vale lembrar o que ensina o Papa Francisco: para o cristão é uma obrigação envolver-se na política, não se pode lavar as mãos como Pilatos. O Santo Padre afirma que “devemos nos envolver na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política”. Francisco ainda apresenta a seguinte argumentação: “Você, então, me dirá: ‘mas, não é fácil porque a política está suja’. E, então, eu pergunto: a política está suja por quê? Não será porque os cristãos se envolveram na política sem o espírito do Evangelho? Faço-lhe outra pergunta: é fácil dizer que a culpa é de outro, mas o que eu estou fazendo? É um dever trabalhar para o bem comum, é um dever do cristão”.

Sem o envolvimento cidadão de todos não será possível alcançar as metas de um país democrático, economicamente justo, socialmente igualitário, sem corrupção, sem violências, discriminação e com oportunidades iguais para todos. Por isso, não se pode abdicar da participação na política. É preciso ir aonde está sujo para limpar. E a etapa que precede as eleições, as campanhas eleitorais, é de grande importância para que o voto seja escolha adequada. Para votar bem é imprescindível conhecer os programas dos partidos, os candidatos e suas propostas de trabalho. Oportuno lembrar também que o dever cidadão não se esgota nas eleições, mas abrange outra fundamental fase: o acompanhamento dos mandatos, tecendo culturas e práticas que possam comprometer os governantes a estarem sempre a serviço do povo, do bem comum.

Muitas são as iniciativas que agora precisam entrar em cena para a mobilização participativa de toda a sociedade, com a promoção de debates, sabatinas, apresentação e assinatura de cartas-compromisso, relacionadas a causas relevantes para a comunidade. Ações que abrangem, até mesmo, a elaboração de projetos de lei fundamentados no bem comum, solicitando o comprometimento de candidatos para que, de fato, essas iniciativas sejam incorporadas ao sistema legal. A democracia precisa ser fortalecida e as eleições municipais são uma “oportunidade de ouro”. Para aproveitá-la, é preciso sair da apatia, promover a participação, conhecer a vida dos candidatos, avaliar se “dão conta do recado”, se têm competência humanística. Trata-se de um desafio, mas, ao mesmo tempo, de grande chance para reverter o quadro calamitoso da política brasileira, investindo em mudanças que já são tardias.

Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo de Belo Horizonte

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