“A parte melhor que não será tirada” Homilia do 16º Domingo do Tempo Comum- Pe Graciano
Já fizemos muitas interpretações sobre este texto colocando Marta contra Maria, ou melhor colocando o serviço contra a oração. Banalmente já falamos que Marta representa o serviço e Maria a contemplação. Na verdade seria importante prestar mais atenção nas palavras de Jesus. Em nenhum momento Jesus coloca as duas irmãs uma contra a outra, mas simplesmente fala de uma parte melhor, não dizendo nada sobre a outra, ainda porque todos iam almoçar naquela casa, inclusive Jesus, e por isso o trabalho de Marta seria importante para eles.
No meu ponto de vista Marta e Maria são símbolos do caminho da fé, que é serviço e contemplação. Todos precisamos destas duas pernas que sustentam a vida. Todos precisamos ser Marta e Maria, precisamos nos doar, aprender a servir o próximo, ou, como dizíamos domingo passado, nos fazendo próximo de quem precisa. Precisamos também aprender a estar com Deus, contemplar.
Parece que o nosso tempo, a nossa vida carece das duas coisas. Está difícil servir e está difícil contemplar, refletir com Deus, meditar a Sua presença em nossa vida. Jesus fala da parte melhor. Sempre digo aos pais e padrinhos das crianças que batizamos que a força da vida não está nos músculos, nem na inteligência, muito menos nas coisas, nos bens, na riqueza. A força de um ser humano está no seu interior, no seu espírito, na sua alma. O ser humano é pessoa, uma união indivisível de corpo e alma, onde tudo é percebido pelo EU. O nosso interior é aquela parte de nós que vive em constante comunhão com Deus, aquela parte de nós sempre conectada com o Pai. É uma parte de nós que é capaz de colocar nossa vida no rumo do infinito, ou, podemos dizer, do eterno presente. Se não vivemos esta comunhão, se não alimentamos a nossa sede de infinito, acabamos vivendo no finito, no imediato, ou pior ainda no imediatismo, buscando pequenas e rápidas “felicidades” de momentos que não são capazes de nos colocar na vida com um sentido global. Quando, ao contrário, alimentamos a nossa sede de infinito somos capazes de enxergar o sentido mais profundo dos atos mais simples e não precisamos de criar pequenas felicidades, pois ficamos envolvidos na felicidade como um todo. Felicidade que não é uma alegria tumultuada, mas aquela sensação de serenidade que nunca será tirada de nós.
É isso que Jesus disse de Maria. Ao mesmo tempo a “Marta” que somos nos faz ser enraizados numa vida concreta, no chão da nossa história. Por isso que servindo e amando concretamente o outro, vivemos um amor infinito que vai muito além, pois o amor de Deus vive em nós e se realiza nos gestos da vida que fazem a nossa história. Por isso que Jesus fala que não vai se esquecer nem de um simples copo de água que doamos com amor.
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Poços de Caldas-MG
Diocese de Guaxupé