A multidão apertava-se ao seu redor- homilia do 5º domingo do tempo comum- Pe Graciano
A multidão apertava-se ao Seu redor para ouvir a Palavra de Deus.(Lc 5,1) Estas são as primeiras palavras que marcam este encontro com o Evangelho. Ainda hoje nos apertamos ao redor de Jesus porque somos sedentos de Deus, mesmo que as vezes perdemos a consciência desta sede. Precisamos de alguém que nos ajude a nutrir nossa alma, nossa sede de sentido, alguém que nos ajude a adentrar no mais profundo do nosso ser.
Nós, que nesta vida, somos quase sempre catapultados para fora, como alienados que não acham mais o sentido do próprio viver. Nós que temos medo do silêncio que nos faz sentir estranhos a nós mesmos e que revela o vazio enorme de quem não cuida mais de si mesmo, do próprio interior. Perante isso temos dois caminhos:
O primeiro é perverso: continuar a ficar no barulho de uma vida superficial e corrida, continuar nos enchendo de coisas que não preenchem o vazio da alma, continuar nos iludindo com a aparência, continuando a deixar que o material domine nossa vida, possuídos por aquilo que achamos de possuir.
O segundo caminho, porém, é libertador: buscar em Jesus Palavras de vida, alimentar de verdade nossa sede de Deus, nosso desejo de paz, de comunhão. Deixar assim que esta palavra nos alimente por dentro, nos alimente de verdade, nos torne fortes na vida, nos ajude a dar sentido a tudo que vivemos.
No evangelho, Jesus encontra os pescadores desanimados: “trabalhamos a noite inteira e nada pescamos”(Lc 5,5). Uma imagem não apenas do trabalho deles, mas da vida, inclusive da nossa de hoje; lutamos, corremos, fazemos sacrifícios, mas temos a impressão de não recolher o que merecemos, principalmente em termos de felicidade e paz. É verdade que “trabalhamos a noite inteira”, mas as vezes misturamos a este trabalho um monte de coisas erradas, relações complicadas, sentimentos negativos, ressentimentos, apegos e ilusões.
Jesus pede que afastassem a barca da margem. Isso mesmo. É preciso tomar distancia da correria do dia a dia para conseguir ouvir algo importante, como as palavras de vida de Jesus.
O convite de Jesus é fantástico: “lançai as redes em águas mais profundas!”(Lc 5,4) Uma imagem que ilumina nossa vida. Estamos ficando demais na superfície da vida, é necessário se aprofundar mais, buscar sentido, buscar solidez.
Esta imagem faz pensar sobre modernidade liquida do qual fala Baumann (Filósofo polonês 1925-2017). (Leia mais sobre Modernidade liquida e o que ela significa clicando aqui)
Se ficamos em pé sobre um barco percebemos toda a dificuldade de ficar em equilibro. A terra nos traz solidez e certeza, já a água medo e insegurança. Assim é a nossa sociedade que perdeu suas certezas e tudo é colocado em discussão. O convite de Jesus de buscar águas mais profundas é mais atual do que nunca porque indica uma maneira de viver com mais sentido e bases sólidas. Nos convida a entrar com coragem dentro de nós e a nos conhecer melhor, discernir o que é bom na nossa vida, a luz das palavras de Cristo.
Ouvir a palavra, meditar, se deixar iluminar, se inspirar para o nosso modelo de vida e de valores. A oração e meditação devem ser a luz acesa na nossa vida, a rede lançada em águas profundas. Fazemos um monte de coisas, não podemos abrir mão do momento de e com Deus. Precisamos achar este tempo. Precisamos nos educar a pensar e entrar mais dentro de nós.
Ficou evidente que Deus não precisa de peixes. Deus precisa de pessoas, homens e mulheres, autênticos. Seja também um pescador de homens. Comece pescando você mesmo. Trate bem sua alma e todo seu ser. Não se obrigue a viver mal, sem sentido, sem paz, sem felicidade, sem Deus. Não faça isso com você mesmo, Deus te oferece uma vida bem melhor.
Padre Graciano Cirina
Paróquia Sagrado Coração e Jesus
Poços de Caldas- MG
Diocese de Guaxupé