A Mãe mais Louvada
Especial Mariano
Presença de Maria na Liturgia
Desde o início da Igreja, Maria ocupa um lugar de destaque, tanto na Liturgia Oriental como na Ocidental. Constatamos sua presença nas festas marianas, nas Orações Eucarísticas, nos hinos, na arte-sacra, na teologia dos Concílios e na vida da Igreja. Trata-se de uma presença histórica, teologicamente refletida e liturgicamente celebrada, com conseqüências espirituais e pastorais.
A partir do Concilio de Éfeso (431) ocorre uma verdadeira explosão do culto mariano, com o surgimento de festas e expressões artísticas diversas nos hinários e na arte-sacra.
A arqueologia testemunha um antiqüíssimo culto a Maria, Mãe do Messias sobretudo em Nazaré e Belém. Surgem também muitos textos apócrifos sobre a vida de Maria (Proto-evangelho de Tiago; Odes de Salomão; Oráculos Sibilinos). Ao século III pertence, certamente, uma das primeiras invocações a Maria como Mãe de Deus (THEOTOKOS), conhecida, no Ocidente, como a invocação “Sub tuum praesidium”.
O Concílio de Éfeso influenciou sobremaneira o desenvolvimento do culto mariano. A proclamação do dogma da Maternidade Divina de Maria foi decisiva para a presença de Maria na Liturgia, tanto nos textos eucológicos (orações) como nos hinários.
Em Jerusalém, logo após a proclamação de Éfeso, encontramos a memória de Maria celebrada em 15 de agosto.
No Ocidente, se desenvolve a comemoração de Maria no Advento.
Em Roma, a mais antiga memória da Mãe de Deus surgiu após o Natal.
No Oriente, se difundiu a celebração da Anunciação, em tomo de 25 de março.
Novas celebrações apareceram a partir do século VI: A Dormição de Maria, Natividade de Maria, Apresentação de Maria no Templo e a Concepção de Maria.
Pelo século XI, na Inglaterra, surgiu a festa da concepção Virginal de Maria, mas não foi acolhida logo em toda a parte.
O Concílio Vaticano II procurou esclarecer tanto a missão da Bem-Aventurada Virgem Maria no mistério do Verbo Encarnado e no Corpo Místico, como os deveres dos homens remidos para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e dos homens, mormente dos fiéis (LG 54).
A memória de Maria está, portanto, inteiramente relacionada com a vida de Cristo, particularmente com o mistério da Encarnação. Isso acontece sobretudo nos momentos centrais da Liturgia (Orações Eucarísticas e Profissão de Fé batismal).
Fundamentação do Culto Mariano
A doutrina da Igreja foi sendo sistematizada, nos últimos tempos, através de vários documentos, dentre outros:
Leão XIII » Encíclica sobre o rosário de Nossa Senhora; Pio XII » Alocuções às Congregações Marianas, 21/01/45; » Constituição Apostólica sobre a Assunção de Nossa Senhora, 1950; Paulo VI » Encíclica “Christi Matri Rosarii” 15/09/66; » Exortação Apostólica “Signum Magnum”, 13/05/67; » Carta ao Congresso Mariológico-Mariano de São Domingos, 02/02/65; » Exortação Apostólica “Marialis Cultus”, 02/02/74; Vaticano II » Lumen Gentium, cap. Vm; » Documento de Puebla; João Paulo II » Encíclica Redemptoris Mater”, 25/03/87;
Uma perspectiva teológica mais completa da presença de Maria na Liturgia é recente. Tradicionalmente se restringia à consideração da sua maternidade divina. Alguns documentos do Vaticano II abordam explicitamente a figura de Maria (LG 50; 66-67; UR 15; SC 103).
Diz a Sacrosanctum Concilium: “Nesta celebração anual dos mistérios de Cristo, a Santa Igreja venera com especial amor a Bem-Aventurada Mãe de Deus Maria que, por um vínculo indissolúvel, está unida à obra salvífica de seu Filho; nela admira e exalta o mais excelente fruto da Redenção e a contempla como puríssima imagem daquilo que ela mesma anseia e espera ser” (sc i03).
O documento de Puebla considera Maria mãe e modelo da Igreja (282-293), modelo também para a vida dos homens (294-297), bendita entre todas as mulheres (298-299), modelo de serviço eclesial na América Latina (300-303): “Deus fazendo-se carne
por meio de Maria, começou a fazer parte de um povo e constituiu-se o centro da história.
Maria é o ponto de união entre o céu e a terra. Sem Maria desencarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, em racionalismo espiritualista” (p. 30i).
Puebla considera Maria como a realização mais eminente da evangelização (282, 333), Mãe da nova vida (288), colaboradora ativa na redenção (293), serva dos homens (294), garantia da grandeza feminina (299), exemplo para a mulher (844) e modelo da vida consagrada (745).
MARIA, Estrela da Evangelização
Maria, como estrela da evangelização, está presente na missão da Igreja que introduz no mundo do Reino do seu Filho. A presença de Maria, nos dias de hoje, como aliás ao longo de toda a história da Igreja, encontra múltiplos meios de expressão.
Seu multiforme raio de ação se expressa mediante a fé e a piedade dos fiéis, as tradições das famílias cristãs, as comunidades paroquiais e missionárias, mediante o poder de atração e irradiação dos grandes santuários, onde, não apenas as pessoas individualmente ou grupos locais, mas, por vezes, inteiras nações e continentes procuram o encontro com a Mãe do Senhor, como aquela que é feliz porque acreditou e por isso se tornou a Mãe do Emanuel (Redemptorie Mater n.º 28).
Maria mãe e modelo
Na “Redemptoris Missio”, o Papa diz que toda a Igreja é convidada a viver mais profundamente o mistério de Cristo, colaborando, com gratidão, na obra da salvação. Fá-lo-á com Maria e como Maria, sua mãe e modelo.
É ela, Maria, o exemplo daquele amor materno do qual devem estar animados todos aqueles que, na missão apostólica, cooperam para a regeneração dos homens. Por isso, “confortada pela presença de Cristo, a Igreja caminha no tempo para a consumação dos séculos, indo ao encontro do Senhor que vem.
Nesta caminhada, a Igreja procede seguindo as pegadas do itinerário percorrido pela Virgem Maria” (RM n. 92).
Por Pe. Valter Mauricio Goedeut – Instituto Teológico de SC (Itesc) – Florianópolis, SC