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Notícias › 15/12/2011

“Rezar mesmo quando Deus parece não responder”, pede Bento XVI

 

O Papa Bento XVI falou sobre a oração de Jesus ligada à sua ação curadora na Catequese desta quarta-feira, 14. A meditação do Pontífice teve como base o episódio da cura do surdo-mudo (cf. Mc 7,32-37), citando também a ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11,1-44). Essa oração manifesta novamente a relação única de conhecimento e comunhão de Jesus com o Pai.

“Lendo essa narração, cada um de nós é chamado a compreender que, na oração de súplica ao Senhor, não devemos esperar um cumprimento imediato daquilo que nós pedimos, da nossa vontade, mas confiar-nos antes de mais nada à vontade do Pai, lendo cada evento na perspectiva da sua glória, do seu plano de amor, muitas vezes misterioso aos nossos olhos. Por isso, na nossa oração, súplica, louvor e agradecimento deveriam fundir-se, também quando nos parece que Deus não responde às nossas expectativas concretas. O abandonar-se ao amor de Deus, que nos precede e acompanha sempre, é uma das atitudes de fundo do nosso diálogo com Ele”, explicitou Bento XVI.

O Bispo de Roma ensinou que, antes que o dom seja concedido, é preciso aderir Àquele que dá, pois o doador é mais precioso que o dom. “Também para nós, portanto, muito além daquilo que Deus nos dá quando O invocamos, o maior dom que pode nos dar é a Sua amizade, a Sua presença, o Seu amor. Ele é o tesouro precioso a se pedir e proteger sempre”.

Nessa perspectiva, a oração confiante de um crente é um testemunho vivo da presença de Deus no mundo, do seu interessar-se pelo homem, do seu agir para realizar o seu plano de salvação.

“Nossa oração abre a porta a Deus, que nos ensina a sair constantemente de nós mesmos para sermos capazes de nos fazer próximos dos outros, especialmente nos momentos de provação, para levar a eles consolação, esperança e luz. O Senhor nos conceda sermos capazes de uma oração sempre mais intensa, para reforçar nossa relação pessoal com Deus Pai, alargar nosso coração à necessidade dos que nos são próximos e sentirmos a beleza de ser ‘filhos no Filho’, unidos com tantos irmãos”, afirmou.

As curas

O Papa destaca que a ação curadora de Jesus está conectada com a sua intensa relação, tanto com o próximo – o doente – quanto com o Pai. No episódio do surdo-mudo, a escolha de levar o doente para um lugar à parte para, somente então, operar o milagre, faz com que, no momento da cura, Jesus e o doente encontrem-se a sós, aproximados em uma singular relação.

“A atenção ao doente, a cura operada por Jesus, estão ligadas por uma profunda atitude de oração dirigida a Deus. O conjunto da narração, portanto, mostra que o envolvimento humano com o doente leva Jesus à oração. Mais uma vez ressurge a sua relação única com o Pai, a sua identidade de Filho Unigênito. Na ação curadora de Jesus entra de modo claro a oração, com o seu olhar em direção ao Céu. A força que curou o surdo-mudo foi, certamente, provocada pela compaixão por ele, mas provém do recurso ao Pai. Encontram estas duas relações: a humana, de compaixão pelo homem, que entra na relação com Deus, e fica assim curado”, destaca.

Bento XVI indicou que, no caso da ressurreição de Lázaro, a participação e comoção de Jesus frente à dor dos parentes e conhecidos de Lázaro liga-se, em toda a narração, com uma contínua e intensa relação com o Pai.

“Desde o início, o acontecimento é lido por Jesus em relação com a própria identidade e missão e com a glorificação que Lhe espera. Também aqui se entrelaçam, de um lado, o vínculo de Jesus com um amigo e com o seu sofrimento e, de outro, a relação filial que Ele tem com o Pai. O anúncio da morte do amigo é acolhido por Jesus com profunda dor humana, mas sempre em clara referência à relação com Deus à missão que lhe foi confiada”.

“Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: ‘Pai, rendo-te graças, porque me ouviste’” (Jo 11,41). Segundo Bento XVI, a frase revela que Jesus não deixou nem sequer por um instante a oração de súplica pela vida de Lázaro. “Essa oração contínua, mais ainda, reforçou os laços com o amigo e, ao mesmo tempo, confirmou a decisão de Jesus de permanecer em comunhão com a vontade do Pai, com o seu plano de amor, no qual a doença e a morte de Lázaro são consideradas como um lugar em que se manifesta a glória de Deus”.

Por fim, o Papa ressaltou que as duas orações de Jesus meditadas revelam que o profundo laço entre o amor a Deus e o amor ao próximo deve entrar também na nossa oração.

“Em Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a atenção pelo outro, especialmente se necessitado e sofredor, o comover-se frente à dor de uma família amiga, levam-nO a dirigir-se ao Pai, naquela relação fundamental que guia toda a sua vida. Mas também vice-versa: a comunhão com o Pai, o diálogo constante com Ele, impele Jesus a estar atento de modo único às situações concretas do homem, para levar a ele a consolação e o amor de Deus. A relação com o homem guia-nos rumo à relação com Deus, e a relação com Deus guia-nos novamente à relação com o próximo”.

A audiência

O  encontro do Santo Padre com os cerca de 8 mil fiéis reunidos na Sala Paulo VI, no Vaticano, aconteceu às 10h30 (horário de Roma – 7h30 no horário de Brasília). A reflexão faz parte da “Escola de Oração”, iniciada pelo Papa na Catequese de 4 de maio. O Pontífice iniciou uma nova seção,  dedicada a Jesus e sua oração, na Catequese de 30 de novembro.

Ao final da audiência, o Papa, na véspera da Solenidade da Imaculada Conceição, pediu que os fiéis imitem o exemplo da Mãe de Deus.

Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:

“Saúdo cordialmente os grupos brasileiros da diocese de Pato de Minas e da paróquia de Silvânia e restantes peregrinos de língua portuguesa, a todos recordando que a oração abre a porta da nossa vida a Deus. E Deus ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros que vivem na prova, dando-lhes consolação, esperança e luz. De coração, a todos abençoo em nome do Senhor”.

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