“Desejo da Igreja é ver concretizada a Palavra de Deus: que a saúde se difunda sobre a terra”
Com o título “Saúde sim. Doença Não”, dom Anuar Battisti, arcebispo metropolitano de Maringá, no Estado do Paraná, fala em seu último artigo que a dor e o sofrimento acompanham o ser humano do nascer até o declinar da vida, no entanto, segundo ele, nós não fomos criados para o sofrimento, nosso Deus não é masoquista, que sente prazer ao ver o ser humano sofrer, nosso Deus é sim o Deus da vida.
No início do texto, o prelado lembra frase do Papa Bento XVI: “Quem permanece por muito tempo próximo das pessoas que sofrem, conhece a angústia e as lágrimas, mas também o milagre da alegria, fruto do amor”, para logo em seguida citar uma passagem de São João, onde Jesus fala: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Para dom Anuar, dizer que a doença é vontade de Deus é uma mentira, pois a doença é coisa da gente, é da natureza humana e não divina.
“Em nenhum momento da vida humana podemos dizer que Deus quis a morte. Muitas vezes a gente se depara com afirmações do tipo: Foi vontade de Deus que acontecesse aquele acidente… foi vontade de Deus que aquela pessoa morresse de tal doença… é vontade de Deus que aquela pessoa sofra porque deve pagar os seus pecados. Nosso Deus não é vingativo, que busca desforra diante do mal cometido. Nosso Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”, explica.
Ainda de acordo com o arcebispo, Nosso Senhor Jesus Cristo nunca deixou de atender o clamor, fosse de quem fosse. A palavra do Senhor foi sempre em defesa da vida. “Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). “Se tu queres podes curar-me. Eu quero fique curado” ( Mc 1,40-41). Ele destaca que a Campanha da Fraternidade deste ano, que aborda o tema da saúde, não quer justificar a doença e muito menos colocar panos quentes na situação da saúde do povo mais necessitado. “Pelo contrário”, diz dom Anuar. “O grande objetivo é refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos doentes e mobilizar por melhorias no sistema público de saúde”, completa.
Ninguém quer condenar ninguém e muito menos jogar pedras contra o telhado do vizinho, mas também não se quer fechar os olhos diante da realidade, afirma o arcebispo. Ele acredita que a Campanha da Fraternidade entende o ser humano como uma unidade de corpo e alma. “Ao paralisar o corpo, a doença impede o espírito a voar. Ao mesmo tempo em que experimentamos a unidade, de outro lado a profunda ruptura. A doença é um forte convite à reconciliação e à harmonização com nosso próprio ser” (Texto base nº 12 do Guia da Pastoral da Saúde na América Latina).
Dom Anuar ainda ressalta mais um trecho do guia, onde diz que a saúde é afirmação da vida, em suas múltiplas incidências, e um direito fundamental que os Estados devem garantir”. O mesmo documento assim define a saúde como “um processo harmonioso de bem estar físico, psíquico, social e espiritual, e não apenas ausência de doença, processo que capacita o ser humano a cumprir a missão que Deus lhe destinou, de acordo com a etapa e a condição de vida em que se encontra (Texto base nº 14).
Por fim, o prelado reforça a ideia de que a saúde é um conjunto de fatores humanos que devem entrar em harmonia, desde alimentação, educação, trabalho, remuneração, as relações interpessoais, a qualidade de vida, a dimensão espiritual da fé, enfim o equilíbrio humano e sobrenatural da vida. O desejo da Igreja, segundo ele, é ver concretizada a Palavra de Deus: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8).
“E para que isso aconteça cada qual deve fazer a sua parte. Os indivíduos como primeiros responsáveis. Os municípios, os Estados e a Nação, através dos organismos competentes, não podem deixar de medir esforços e criar políticas públicas que venham ao encontro das necessidades do povo. Por isso: saúde sim. Doença não”, conclui dom Anuar.
Dom Anuar Battisti/ Arcebispo metropolitano de Maringá