“A Igreja não existe para si mesma”, diz o Papa
Bento XVI voltou a se encontrar, neste domingo, 19 de fevereiro, com os novos Cardeais criados no Consistório de ontem de manhã. Ele presidiu a eucaristia e dirigiu uma palavra aos novatos diante dos quase cem outros membros do Colegio Cardinalício que vieram a Roma prestigiar o evento e atender o apelo do Papa.
Na Basílica Patriarcal de São Pedro, o cenário era composto por uma multidão de fiéis que lotou a nave central e, além dos cardeais, estavam também presentes cerca de 150 bispos e por volta de 200 padres. Na duas áreas reservadas para a imprensa, próximas do baldaquino estavam cerca de 80 jornalistas de Rádio e TV. Forte esquema de segurança impedia o trânsito das pessoas pelas naves laterais e a execução das músicas litúrgicas pelo coro criava uma atmosfera especial.
Os novos Cardeais foram concelebrantes, portanto, ocuparam os mesmos lugares que estiveram no Consistório, isto é, diante do altar e sentados num semicírculo. Em nome do grupo, antes da liturgia, falou o Cardeal Fernando Filoni. O papa deixou o veículo que o conduzira desde a entrada da Basílica e se sentou diante do altar-mor que se encontro sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Em latim, ele presidiu a Eucaristia na solenidade da Cátedra de São Pedro. A primeira leitura, tirada do livro do profeta Ezequial foi lida em inglês. Retirada da primeira Carta de São Pedro, a segunda leitura foi feita em espanhol. O trecho do Evangelho de São Mateus foi proclamado em latim.
Na homilia, o Papa lembrou que a ocasião “se reveste de um caráter especial de universalidade”. Antes de passar à meditação da Palavra proclamada, Bento XVI sublinhou que a mensagem é dirigida “antes de mais nada” aos novos Cardeais que são reconhecidos no meio do Povo de Deus pelos méritos na “na obra generosa e sábia do ministério pastoral em dioceses relevantes, ou na direção dos dicastérios da Cúria Romana, ou ainda no serviço eclesial do estudo e do ensino”. O Papa reafirmou que a dignidade do cardinalado pretende manifestar o apreço pelo trabalho realizado por cada um de fiel servidor na vinha do Senhor e de “homenagear as comunidades e nações” que os Cardeais são representantes na Igreja. O título vem ainda, segundo o Papa, investir os Cardeais de novas e importantes responsabilidades eclesiais e é um pedido de “suplemento de disponibilidade para Cristo e para a comunidade cristã inteira”.
Bento XVI, enquanto meditava o trecho do evangelho, ressaltou o significado da festa litúrgica deste domingo, a cátedra de São Pedro, mostrando um elemento artístico muito conhecido e que estava diante dos olhos de todos os presentes na Basílica Vaticana: o altar da cátedra. “Quando depois de percorrer a grandiosa nave central e ultrapassar o transepto, se chega à abside, encontramo-nos perante um trono de bronze enorme, que parece suspenso em voo mas na realidade está sustentado por quatro estátuas de grandes Padres da Igreja do Oriente e do Ocidente. E na janela oval, por cima do trono, resplandece a glória do Espírito Santo, envolvida por um triunfo de anjos suspensos no ar”. Despois dessa descrição, o Papa pergunta: “Que nos diz este conjunto escultórico, nascido do gênio de Bernini?” e responde, com voz firme: “Representa uma visão da essência da Igreja e, no seio dela, do magistério petrino”.
Prosseguindo a reflexão, o Papa destacou: “a Igreja não existe para si mesma, não é o ponto de chegada, mas deve apontar para além de si, para o alto, acima de nós”. E, destacou: “A Igreja é o lugar onde Deus ‘chega’ a nós e donde nós ‘partimos’ para Ele”. No final da homilia, concluindo a exposição dos símbolos do altar da Cátedra na Basílica de São Pedro, Bento XVI disse: ‘lancemos um ohar ao seu conjunto. Vemos que é atravessado por um duplo movimento: de subida e de descida. A Cátedra aparece em grande destaque neste lugar, não só porque está aqui o túmulo de Pedro, mas também porque ela encaminha para o amor de Deus. Com efeito, a fé orienta-se para o amor. Uma fé egoísta seria uma fé não-verdadeira”. E na conclusão, o Papa disse: “Deus não é solidão, mas amor glorioso e feliz, irradiante e luminoso”.
Por CNBB