“A África é uma esperança para o mundo e para a Igreja”
“Não priveis os vossos povos da esperança! Não amputeis o seu futuro, mutilando o seu presente. Mantende uma perspectiva ética corajosa sobre as vossas responsabilidades e, se fordes pessoas de fé, rogai a Deus que vos conceda a sabedoria”, exortou o Papa Bento XVI durante o encontro no Palácio presidencial de Cotonou, realizado no último sábado, 19.
No segundo dia de sua visita ao Benin, o pontífice quis reafirmar a necessidade da esperança como impulso para começar com maior força e convicção a transformação do continente africano, rico de potencialidades.
Diante de cerca 3 mil pessoas, entre as quais, expoentes políticos, diplomáticos e religiosos, Bento XVI afirmou que a “África é o continente da esperança para a Igreja e para o mundo” e pediu para que “parem de fomentar a visão negativa e pessimista, redutiva e desrespeitosa sobre a África que é apresentada com muita frequência em uma perspectiva de curiosidades etnológicas e tratada como uma enorme reserva energética, mineral, agrícola e humana, fácil de explorar para interesses muitas vezes pouco nobres”.
Na lição oferecida aos políticos, diplomatas e representantes religiosos, o papa não propôs soluções prontas, mas trouxe palavras de esperança ressaltando os valores do continente africano e dando algumas sugestões para reflexão sobre os problemas atuais.
No auditório em profundo silêncio, o Papa recordou que os valores como a liberdade, o respeito pela dignidade, o acesso à educação e a assistência sanitária, uma alimentação adequada e um justo governo são fundamentais para toda cultura e também os direitos fundamentais de toda pessoa. Infelizmente, a realização disso, conforme Bento XVI, torna-se impossível por causa de “demasiados escândalos e injustiças, demasiada corrupção e avidez, demasiado desprezo e demasiadas mentiras, demasiadas violências que levam à miséria e à morte”.
“Nenhum regime político humano é o ideal, nenhuma decisão econômica é neutra; mas sempre devem servir o bem comum”, afirmou o Papa, lançando um apelo aos políticos e economistas para serem “promotores do futuro e verdadeiros servidores da esperança”. Conforme Bento XVI, a Igreja católica quer contribuir nesta missão oferecendo “a alma deste corpo, apontando incansavelmente o essencial: Deus e o homem”.
Sobre a missão de dar esperança, o Papa afirmou que se trata de um dever religioso. “Nenhuma religião, nenhuma cultura pode justificar o apelo ou o recurso à intolerância e à violência”. A agressividade, continuou o Papa, é uma forma relacional demasiado arcaica, que faz apelo a instintos banais e pouco nobres. “Utilizar as palavras reveladas, as Sagradas Escrituras ou o nome de Deus, para justificar os nossos interesses, as nossas políticas tão facilmente complacentes ou as nossas violências, é um erro gravíssimo”, concluiu o pontífice.
O Palácio presidencial onde aconteceu o encontro é uma grande edifício construído em 1960 por ocasião da proclamação da Independência do Benin. Situa-se às margens do Oceano Atlântico.